Quarentena*
E o tal relógio segue despejando
as horas e os minutos pelo chão
Esse caudal de tempo encharcando
o território do meu coração
que segue à superfície respirando
teimando, resistindo à inundação
de todos os segundos gotejando
nos meus fantasmas tristes no porão.
Seu badalar cruel vai martelando
todas as coisas vãs que já não são
e por não serem, serem só saudade,
inflamam os meus dias de aflição
que o tal relógio segue me lembrando
a cada badalada em comunhão
com as horas que escorrem lentamente
e vão pingando em mim sem compaixão
* Leonardo Almeida Filho (CB, 09/07/2020, Diversão & Arte, Tantas Palavras, p. 25.
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