Rito de Passagem
(José António de Castro)
Ela - naquela vida desde quando recebeu uma promessa não cumprida de casamento. O resultado foi um fruto do seu ventre.
Ele - saído da adolescência, em busca de novas experiências.
Ela - num sábado qualquer naquela casa de luz vermelha do lado da rodovia, depois do açude.
Ele - feliz da vida, pega a gilette para fazer a primeira barba.
Ela - prepara-se diante do espelho.
Ele - de banho tomado, roupa limpa, água de cheiro, sai em direção à casa de luz vermelha do lado da rodovia, depois do açude.
Ela - ombros nus, compondo um conjunto delicado sob a alça fina da blusa.
Ele - sob luz discreta, na mesa do canto, examina o ambiente.
Ela - olha a presa e faz pose.
Ele - sente o vulto dela e o cheiro do seu perfume.
Ela - cruza as pernas na direção dele.
Ele - consegue ver as sardas. Lindas sardas misteriosas, invadindo uma fenda sensual entre os seios delicados, escondidos sob o leve tecido negro.
Ela - aproxima-se da mesa dele.
Ele - acorda com o chamado do pai.
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