Vigilantes da Língua
Ronaldo Cagiano
Projeto ousado, pioneiro e interessante vem desenvolvendo o amigo e escritor Jacinto Guerra, atual Secretário de Cultura e Turismo de Bom Despacho. Professor de Português, formado em Letras pela UFMG, está preocupado com o volume e a gravidade dos erros de linguagem e coisas mal escritas em sua cidade e no país. Para coibir a ação dos peralvilhos do idioma, entra em campo como um autêntico "um Dom Quixote a combater moinhos de vento", como ele mesmo define sua marcha contra a banalização da língua-mãe.
Com apoio do Prefeito de Bom Despacho, Haroldo Queiroz, o estímulo da Câmara de Vereadores e o entusiasmo de estudantes, professores e escritores, Jacinto prtende "instituir uma OLP, que lembra a Organização para a Libertação da Palestina, mas é simplesmente uma Oficina de Língua Portuguesa, à disposição, no Município, de todos os interessados para, a custo zero, reparar, corrigir e melhorar textos diversos: placas, faixas de publicidade, anúncios e outros escritos." A sua campanha está lançada nesses termos, galvanizando a atenção da imprensa de sua aldeia e de outras cidades, inclusive merecendo do jornalista Manoel Hygino, referências elogiosas.
Trata-se de uma tarefa hercúlea, que vem lidar com uma tradição arraigada em nossa sociedade - tantas vezes acometida do agrafismo, por culpa e obra de histórico analfabetismo que vem sendo, a duras penas, debelado. Às portas do terceiro milênio, não podemos mais conviver com o desprezo a um valor tão alto como a Língua, pois é nossa herança primeira, a representar a nossa comunicação plena com o mundo. Não se pode negligenciá-la, porque é a nossa identidade, nossa raíz mais direta e profunda. Jacinto Guerra, ciente da necessidade de sua preservação, de a culturarmos sem vícios ou importações alienígenas, acredita neste trabalho, pois é preciso fazer alguma coisa, porque "a marcha de mil quilômetros começa com o primeiro passo", diz ele e que "é melhor acender uma lamparina que amaldiçoar as trevas". E vem na direção do que pregou o saudoso filológo Antônio Houaiss, para quem "uma língua de cultura como a portuguesa é um bem comum que funda e fundamenta um universo que interessa aos seus usuários ou utentes preservar, para bem de sua condição humana, sem xenofobia ou horror, nem subserviência ao estrangeiro".
Jacinto não se incomoda com os detratores do idioma, que vivem a conspurcar o Portugês com estrangeirismos, em detrimento de nossos valores. Sabe que, para alcançar seu objetivo principal - uma comunicação escrita e falada mais eficiente, correta, simples, elegante, nas empresas, nas ruas, na cidade inteira - transformando-se numa referência educativa, cultural e turística - é preciso promover a língua em todas as instâncias. É o que, altruisticamente, vem fazendo, convidando os professores de Português, estudantes de Letras, escritores, publicitários, jornalistas, advogados e outros profissionais que têm na comunicação seu importante instrumento de trabalho para formar uma equipe de voluntários responsável pelas tarefas da OLP de Bom Despacho.
Vale destacar que seus esforços não serão em vão, pois o Deputado Aldo Rebello vem na mesma direção, autor que é de um projeto de lei que visa coibir o que qualifica de "bilingüismo nocivo, antinacional e destruidor do idioma", e, com o mesmo ímpeto profilático, adverte que a língua portuguesa tem sofrido um devastador ataque de estrangeirismos. Tal como o Secretário de Cultrua de Bom Despacho, o deputado paulista, faz a sua parte no parlamento e vai fundo na questão: "Mais que uma lei, nosso objetivo é contribuir para o surgimento de um movimento nacional de defesa da língua portuguesa".
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