Amar dentro do peito...*
(Manuel Maria Barbosa du Bocage)
Amar dentro do peito uma donzela;
Jurar-lhe pelos céus a fé mais pura;
Falar-lhe, conseguindo alta ventura,
Depois da meia-noite na janela:
Fazê-la vir abaixo e, com cautela,
Sentir abrir a porta que murmura;
Entrar pé ante pé e, com ternura,
Apertá-la nos braços casta e bela:
Beijar-lhe os vergonhosos, lindos olhos,
E a boca, com prazer o mais jucundo,
Apalpar-lhe de leve os dois pimpolhos:
Vê-la rendida a Amor fecundo;
Ditoso levantar-lhe os brancos folhos;
É este o maior gosto que há no mundo.
* Brasília, DF, 27/03/2021. Poeta lírico e neoclássico português (1765-1805) morreu aos 40 anos, vítima de um aneurisma. foi acusado de heresia, dissoulção dos costumes e de ideias republicanas. Foi perseguido, julgado, condenado e encarcerado por sucessivas vezes em prisões portuguesas. No cativeiro, traduziu Virgílio, Ovídio, Tasso, Rousseau, Racine e Voltaire. Era um poeta de erotismo, de paixão, de acusação das injustiças sociais e da decadência da elite portuguesa de sem tempo. (CB, 15/11/2005, Tantas Palavras, p. 3).
|