Outro Dia*
Trancou com chave a porta do quarto,
Disse que nunca mais sairia.
Disse que era dor de enfarto
E que bem o tempo curaria.
Jogou-se abruptamente na cama.
Mostrou não ter medo da queda.
Maldisse todos os que mais ama.
Jurou que o troco vem na mesma moeda.
Chorou por todos os oceanos.
Gritou rancores, blasfêmias e palavrões.
Xingou seus pais, sua vida, Deus e os humanos.
Adormeceu com a gilete nas mãos.
Acordou quando o sol já brilhava.
Ainda tinha o rosto vermelho.
Mas vestiu a roupa que mais gostava,
E abriu a porta após sorrir pro espelho.
" Giovanna Carla de Oliveira, "Outro Dia", Natal (RN), Impressão Gráfica e Editora, 2002, p. 51.
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