VERDADE
Alguns perigosos jogos do tempo
enferrujam os instantes por dentro
como alfinetes ou pregos
ou mordidas de bicho.
Fica-se então detido
sem movimentos suficientes para sair
ou voar
e o ser torna-se estatua de gelo ou então
vai embora deixando a couraça.
Não posso habitar uma armadura
nem virar pedra
não quero o imóvel
porque nasci para viver
como o que palpita no coração da selva.
Somos passageiros aleatórios
que percorrem o tempo aos trancos
até descobrir seus mágicos momentos.
Aqueles momentos luminosos
que nos fazem felizes.
Então tentamos detê-los para sempre
como conservas em frascos
ou pedras de enfeite.
O tempo não perdoa a sensatez
de querer permanecer.
Vou viajar com o tempo
grudada em seu trem de fuga
como pássaro louco
ou criança com o rosto colado
na janela do vagão.
Vou passar insensata
fugaz
alucinada com as cores...
E então saberei que existo
entre as brechas de verdade
da grande ilusão concreta
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