DELÍRIOS DA AMANTE
Ele a desejou quando a viu pela primeira vez.
Ele chorou quando pensou em tê-la.
Ele implorou aos céus para que lhe desse ela.
Ele não contou os dias que seriam, nem perguntou o preço da passagem.
As crianças brincam a beira do precipício.
As crianças não pensam na morte.
Assim foi a sorte do moço do norte.
O amor arrebenta no peito como a ácute;gua de um minador.
Isto é um milagre da natureza; é coisa do criador.
Ele a amava muito.
Ele sonhou com ela. O moço acreditava em tudo. E ela também.
- Onde ele estácute;? Um dia perguntou a moça da rua Pernambuco.
- O rapaz se foi. Dizem que cruzou o mundo. Dizem que ele não é mais ele. O mesmo transformou-se na diferença.
As mulheres choram seus homens caídos.
As mulheres esperam amores idos; eles são como vapores que sobem nas calçadas frias do sul.
Ele a amou como soube. Ele a amou enquanto pode. Ele a amou enquanto acreditou em quem era, ou no que pensava ser.
Os dois caminharam numa estrada sofrida. Foi senda de feridas, foi coisa feita, macumba sinistra ou a inveja da fulana.
Ele se foi para o agreste. A vida da moça virou uma peste.
Suas esperanças são como suas lácute;grimas – ácute;gua destilada escorrendo pelos sulcos cansados do rosto.
O bom senso lhe disse certa vez: A fé permanece, mas, esperar cansa.
Sua dor foi a causa de sua transformação - a moça se tornou uma ácute;rvore torcida no tronco e nas raízes. Ela levou às últimas consequências sua crença. Ela fez de sua beleza suas cicatrizes.
Um rosto gelado, uma testa pácute;lida se apresentam num saudoso retrato.
Era um momento de delírio, mais um martírio daquele que espera.
Seu moço era uma estácute;tua de cera, um manequim de terceira exposto nas vitrines das lojas e nas barracas da feira.
O tempo soprou as folhas, o chão agora limpo nada diz, nada fala.
O fogo queimou a palha.
E os homens são o que são:
Delírio, ilusão, sonho, desejo, amor, paixão...
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