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Artigos-->Por onde andará Eve, a clone? -- 28/02/2003 - 13:58 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por onde andará Eve, a clone?



Fátima Oliveira*



Se é que ela existe. Responderão algumas pessoas. Existe, reafirmarão outras. Recordo-me da sabedoria do velho Marx: “é preciso duvidar de tudo” e ficar pronta para receber Eve, pois como renegar um ser humano? Se Eve existir, com que roupa vou conhecê-la? De festa ou de luto? Não estou pronta para conhecê-la. Por inúmeros motivos. Creio que um clone humano tipo Dolly é tecnicamente possível, embora não haja garantias de que não seja “bichado” (o que em nordestinês quer dizer estragado)... Sobre clonagem há perguntas de caráter científico e ético sem respostas. É preocupante.



Para a Clonaid, a clonagem é um modo de concepção e o caminho para a vida eterna. Criada em 1997, a Clonaid, cuja sede fiscal é nas Bahamas e a comercial no Canadá, pertence à seita Rael, e é dirigida pela engenheira química francesa, a bispa Brigitte Boisselier. Escrevi em “O irresistível fascínio da clonagem” (O TEMPO, 24/01/1998) que em 1997 havia dois serviços de clonagem humana: o Clonaid e o Insuraclone, que contavam com expressiva clientela. O primeiro, oferecia um clone por U$ 200 mil. O segundo, por U$ 50 mil, estocava células, para futura geração de clones.



Relembro: em ciência, não-comprovado não significa que não exista! Na polêmica sobre se Eve, a clone, é um fato ou uma miragem, a recusa dos raelianos em submetê-la a testes de DNA não demonstra que ela é um blefe científico, como insiste muita gente, mas que há pontos nebulosos, há. Parece conversa fiada, mas não é, acreditem: a clonagem é uma biotecnologia simplérrima, embora descarte ainda um mundão de embriões. O que em si pouco difere dos serviços tradicionais de Reprodução Assistida que incineram seus embriões órfãos/abandonados. Para uma obsessão religiosa fundamentalista, que tem as biociências como oráculo, é irrelevante transformar embriões em lixo biológico e jogá-los no ralo. A Igreja Católica e as ortodoxas consideram a clonagem um atentado à dignidade humana, mas protestantes liberais, judeus e algumas facções do islamismo ressaltam os benefícios da clonagem terapêutica.



Na bioética, o debate de certo modo parece expectante e centrado na ética da responsabilidade para com as gerações futuras. Para ilustrar, eis brevíssima história da clonagem tipo Dolly:



1997 – anunciado em março o nascimento, em junho de 1996, da ovelha Dolly, clone da raça Finn-Dorset, gerada por clonagem tipo Dolly (óvulo desnucleado de uma ovelha e núcleo de célula somática de outra), pela equipe de Ian Wilmut, do Roslin Institute, Edimburgo, Escócia; obtidos os clones Cedric, Cecil, Cyril e Tuppence, a partir de células de embrião cultivadas pela equipe de Ian Wilmut; “ovelhas humanas”: clonadas e geneticamente modificadas, proeza também de Wilmut. Polly, uma ovelha transgênica de humano – uma monstrinha genética, uma biofábrica da proteína alfa-1-antitripsina – possui irmãs programadas” para fabricar fibrinogênio e proteína C ativada. As células que as originaram foram, deliberadamente, contaminadas pelo “mal da vaca louca”!



1998 – surgiram dúvidas sobre a autenticidade de Dolly, encerradas com o nascimento de vacas tipo Dolly no Japão e na França (Marguerite), o que indicava que pelo caminho teórico e biotecnológico que originou Dolly seria possível “fabricar” humanos; cientistas sul-coreanos clonaram um embrião humano, que foi destruído, a partir de células adultas de uma mulher; e a possibilidade de clones humanos foi divulgada pelo físico norte-americano Richard Seed e pelo médico sul-africano Mohamed Cassim.



1999 – a Universidade do Havaí produziu o rato Fibro, primeiro animal macho clonado a partir de células de ratos machos; três equipes (Clonaid, Richard Seed e Mohamed Cassim) disseram que fabricariam clones humanos; norte-americanos criaram um embrião humano tipo Dolly e chineses obtiveram um embrião de panda; no 1o. semestre de 1999 cientistas dos Institutos Nacionais de Saúde (INH) decidiram não trabalhar com células-troncos humanas extraídas de embriões, apenas com as fabricadas em laboratório; e na França, acirraram-se os debates que evidenciaram que há muita ignorância sobre as decorrências da clonagem a curto, médio e longo prazo. Cientistas do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica da França, informaram que uma vaca tipo Dolly, aparentemente normal ao nascer, morreu de anemia com 7 semanas de vida. A autópsia revelou que o baço e os nódulos linfáticos não se desenvolveram normalmente.



Em 2001 a Advanced Cell Thecnology (EUA) criou embriões humanos por dois métodos: tipo Dolly e partenogênese por estimulação química do óvulo; e estrelaram as hipotéticas “Filhinhas da mamãe”, criadas pela drª. Orly Lacham-Kaplan (Austrália), uma biotecnologia que obsoletiza o espermatozóide, pois a fecundação se dá via material genético de células do corpo. Em 1998 James Thomson e John Gearhart (EUA) isolaram células-tronco (capazes de se desenvolver e se especializar) de um embrião humano em estágio inicial e assim aparece a clonagem dita terapêutica: o uso de células-tronco para a fabricação de órgãos. Em 2000, Gearhart transformou células-tronco em dez tipos de células comuns. De 1999 para cá clonaram macacos, vacas, ovelhas, cabras, porcos, coelhos, ratos, etc... Há cientistas que sabem fabricar humanos tipo Dolly, ainda que sem selo de segurança. Nas sociedades hodiernas, desprovidas de cultura bioética e de biossegurança, por que os “deuses da ciência” pediriam licença para clonar humanos? Há clones humanos tipo Dolly. Eu acredito. Creio que é hora de impor, sem fundamentalismos, limites à ciência em respeito às gerações futuras.







Fátima Oliveira escreve no Magazine às quartas-feiras. É também articulista da Rede Internacional de Comunicação CTA-JMA



E-mail: fatimaoliveira@ig.com.br

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