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cronicas-->Perplexidade (*) -- 21/08/2007 - 15:50 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Perplexidade (*)


Eram 19:10h de 30/08/2000, quarta-feira, ocorreu-me fato surpreendente que tentarei lembrar e resumir.

Naquela noite, havia levado a Chrisinha ao UNICEUB (onde cursava o 4º semestre de jornalismo), cujo retorno, ao final das aulas, com o namorado estava previsto. No banco de trás, a Lylli que eu teria de levar à aula de piano. Trànsito com dificuldades. Vento. Chuva. Frio. Acidentes sem consequências. Desejo de pór o carro na garagem, tomar banho, comer algo e dormir.

Cortando percurso em busca de acesso que permitisse chegar antes das 19h à Academia BSB Musical (Sas 19h à Academia BSB Musical (SHGN 712, em que a Lylli estudava desde 1993), fiz o trajeto em 12 minutos - rápido em face das condições da via de rolamento. Ao deixá-la, recordo-me bem destas palavras: boa aula, minha filha, com Deus fique; vou a casa e, depois, às 20h, apanho você.

Como sempre, não disse nada e desceu. Segui o caminho de volta, sem pensar fixamente em nenhuma coisa.

Rádio ligado. Transmissão: VOZ DO BRASIL. Aos ouvintes o locutor dirige esta frase, que sentetizo "mutatis mutandis":

 Os empresários querem saber o que o governo tem feito no plano social.

Comentei (pensando que a Lylli ainda estivesse comigo): puxa, que pergunta! É quase o mesmo que indagar se os preços e tarifas têm sido controlados. O pior, minha filha, é que há pessoas crédulas que imaginam ser uma graça a miséria deplorável em que vivem muitos semelhantes. Mas isso não a preocupa, entendo; desligo o rádio e falarei de coisas mais agradáveis, concorda? (Nenhuma resposta, e eu suponho a Lylli no mesmo lugar). Era de costume eu falar, falar .... e ela, quando muito, balbuciava:

 Sim, não, mais ou menos, bem, bom, mal, tá, tó, fui.

Continuei o roteiro, lento e conversando. Lembro-me muito bem de que passava em frente à SQN 311, onde alguns blocos de apartamento estavam sendo concluídos. Um deles, até razoável, eu, a Telma e a Lylli tivemos olhando para comprar. O corretor Vieira, interessadíssimo, ligava sempre para efetivar o negócio. Nós, meio preocupados em assumir dívida tão grande, íamos adiando. Quis tratar do assunto com ela, já que prometera conversar sobre coisas menos drásticas. Filha, o Vieira telefonou e disse que dia primeiro do mês que vem o imovel terá o preço aumentado; se nós pudermos adquiri-lo agora será melhor: ganharemos de 10 a 15% de desconto. Que você acha? devemos comprá-lo? que pensa? entende que será bom para todos? ou prefere permanecer no apartamento SQN 309? que, aliás, parece não ser dos piores. Nenhuma resposta, silêncio pleno. Exclamo: Lylli, Lylli, Lylli!? Nada, nada, nada. Nesse caso, procuro estacionar o carro e olho discretamente para trás e, surpreso, pensei: que foi? não está aqui? caiu? desceu? as portas estão travadas! Aí, sim, retornei à realidade: conscientizei-me de que havia deixado na aula de música.

Que lição! Pude perceber que estava (depois de 45 anos de trabalho honesto e muito desgaste) deveras cansado e precisando de umas férias. Penso assim, porque meu intelecto não se sente afetado: lembro-me, com lógica, de fatos e compromissos; julgo que seja só esgotamento ou falta de lazer.

Em casa, comentei o ocorrido com minha mulher a qual disse:

 É, você está ficando velho!

Eu pensei comigo: ainda bem que ela só notou isso!

No dia seguinte, quando apanhava a caçula no Leonardo da Vince (ali fazia o 2º ano do 2º grau), mostrei-lhe o manuscrito desta narração. Leu-a atentamente e não fez comentário. Continuamos.

Após o almoço, quando saía da mesa, perguntei: e aí, Lylli, que achou da crónica do papai? gostou? está conforme? Quase monossilabicamente, disse:

 É ... mais ou menos.

Completando a apresentação do feito; mostrei-o à Chrisinha e pedi sua opinião: que tal, filha? critique e dê seu entendimento. Serena e meio encabulada, afirmou:

 Normal.

Depois disse julgamento, só posso concluir: estou em equilíbrio (mas fiquei perplexo por alguns minutos).


_________
(*) "V Antologia Nau Literária", 1ª ed., Campinas (SP), Editora Komedi, 2003, pp. 16 a 18.

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