Usina de Letras
Usina de Letras
130 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62182 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Aprendizado (*) -- 21/08/2007 - 17:36 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Aprendizado (*)


Dia 23/09/2005, uma sexta-feira, chego a casa às 19 horas. Nem acabo de chegar direito, paro o carro na garagem. Ao lado do meu carro uma vizinha com filhos pequenos; parece que chegaram da escola. Comprimento-a, subo as escadas rapidamente para ir à famárcia (bem do lado de meu bloco, superatenciosos os atendentes, mas com preços altos e, quase sempre, não há o que procuro). Desta vez, para minha surpresa, encontro o medicamento. Também pudera: Vitamina "C" efervescente. Adquiro o produto e me vou. Retorno ao carro para pegar uns embrulhos que ali havia deixado de propósito, enquaavia deixado de propósito, enquanto ia ao comércio. Na portaria do prédio, o zelador me interrompe:


- Há uma encomenda para o senhor. Pode levá-la?


Disse-lhe que sim. Leve e sem nenhum indicador, poderia proporcionar surpresa.


Já no apartamento, abro o envelope e comprovo: de Portugal, do poeta Morais Lopes, 4 livros ("Labirinto, sonetos e outros poemas"; "Poemas ou a deliquesciência do ser"; "poesia, vem!...", poesia em verso livre, "Morais Lopes, poeta iluminado").

De imediato, penso: preciso lê-los o quanto antes, meu confrade deve esperar algum comentário, nem que seja apenas de agradecimento. Aliás, é desanimador quando encaminho livros a alguém e não tenho sequer critica ou sinal que comprovar tê-los recebido.


Já com sono e cansado, falheio-os com interesse e pude, ainda que rapidamente, pressentir a nobreza dos escritos.


Nesse ínterim, toda a família reunida e cada um ocupado com seus afazeres. Telma, minha mulher, com esmero e carinho de vovó dedicada, mesmo depois de um dia exaustivo de trabalho, preparava - tarefa da qual não abre mão - a sopa de nossa netinha Bianca (a 1ª com 6 meses e filha da Chris que, na "Internet", fazia pesquisas acerca dos estudos). Lylli, no escritório, ultimava as lições do curso de arquitetura (exercícios, dificílimos que teria de apresentar no dia seguinte). Gabi, muito aplicada, estudava na varanda (fazia o 3º ano do secundário) para garantir sempre notas máximas. Eu, por minha vez, sentado à mesa, conversava com a mamãe (administradora de todos nós); falava de coisas simples e espirituosas enquanto ela concluía o preparo da refeição da pequenina.
Nesse intervalo de tempo, o telefone toca. Normalmente atende-o, o menos ocupado. Era uma amiga avisando-me de que, por motivo de outro compromisso, não haveria mais a reunião que havia agendado para sábado, às 9 horas, outra data seria escolhida e marcada. Nada preocupante volto à conversa.


A refeição da Bianca havia ficado pronta e estava sendo servida. E ela contentemente e devagar, ir tomando: a Telma, com calma, alternava as colheradas com algumas palavras ternasns. Passava o tempo: eram necessário 20 a 30 minutos pra que Bianca fizesse, com proveito, sua refeiçãozinha. Aí, lembrei-me: os descendentes guardam biologicamente traços dos antepassados. No caso, parece-me que a Bianca tem mostrado que herdou: sabedoria da vovó, inteligência da Chris, força física do papai, calma das titias e tranquilidade do vovó para alimenta-se.


Na madrugada anterior (e boa parte da noite), os gritinhos da Bianca não nos deixaram dormir sossegados. Eram, felizmente, só de manha. Estava costumando-se ao berço e sentia-se só às vezes: bastava pór, cautelosamente, a mão em cima dela, que continuava o sono, nem abria os olhinhos.


Num determinado momento, já havia comido ¾ do prato de sopa, a vovó, carinhosamente, lhe disse:


- Agora vou preparar-lhe um docinho de ameixa, para mais tarde.
Deu-lhe uma pouco d嫇gua e afirmou:


- Depois vai dormir tranquila, certo? Ontem eu não dormi direito. Você acordava de hora em hora e fazia:


- Uém, uém, uém!...


Foi o suficiente para Bianquinha mudar de estado de espírito (até então alegre e receptiva) e desatar-se a chorar forte e sentidamente.
Ficamos todos preocupados. A Chris, atenciosa e meiga com a menina, ouviu e veio em socorro:


- Que houve? Que fizeram com você? Que ir lá para sala?


Com ternura e preocupada, tomou-a nos braços e se incumbiu de transformar em alegria aquele momento que, para a pequenina, pode ter sido desagradável e ameaçador. Demorou um pouco, mas com o jeito materno e sereno, obteve sucesso pleno.


Aos poucos , retornávamos às nossas atividades: cada um nos seu mister; a Chris, no mais nobre deles: olhar a filhinha!


No escritório, começo a refletir sobre o ocorrido. O imaginário da pequenina deve ter sonhos e coisas que só especialista pode entender. Mas, ainda assim e sem o conhecimento científico devido, creio que o gesto, a voz, o modo de falar, a expressão fisionómica contribuíram para o choro.


Claro que o amor, o carinho, a fisionomia branda e leve ajudam (e muito!) na formação infantil. Tanto é que, com isso, a Chris reverteu o choro em estado de alegria; logicamente, depois de certo esforço - até compensado pelo retorno inquestionável.


No dia seguinte, de manhã bem cedo, a Telma ia ao mercado. Todos, exceto eu e ela, ainda dormiam tranquilamente. Tive o cuidado de retirar o fone do gancho. Nessas horas, há sempre alguém que liga, na maioria das vezes, engano...


Despedi-me da Telma (invariavelmente faço-o), vá com Deus! Ainda sugeri: Tome o outro elevador; este está com cheiro horrível. Solicitei ao encarregado que verificasse o que houve e se poderia melhorar (o que, passadas 4 horas, não foi feito!)


Na garagem, para tomar o seu carro, a Telma toca o interfone:


- Bené, a luz interna do seu carro está acesa; passou a noite assim.
Agradeci e providenciei o desligamento.
Entretanto, tirei de tudo mais uma reflexão: não bastam: amor, sabedoria, vivência, ternura e conhecimento; é preciso habilidade também em cada momento de agir. Todos erram: uns mais; outros menos. É provável que estes usem, com frequência, a determinante habilidade.


Por fim, lembro-me do que disse um militar especialista em guerra, ao ser indagado por seu superior sobre o que é ter coragem:


- Ter coragem não é partir para cima do inimigo e atacar com toda a força estraçalhadora, mas sim aguardar o momento certo, adotar todas as cautelas que garantam o êxito total do empreendimento e, estrategicamente, atacar. O resultado será, sem dúvida, eficaz e mais feliz!


Enfim, continuo aprendendo.


_________
(*) "X Coletànea Komedi", 1ª ed., Campinas (SP), Editora Komedi, 2006, pp. 26 a 29.


Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui