O mar virou sertão no coração do norte-mineiro. Ligeiro, passa uma nuvem se escondendo do sol. Vaqueiros confabulando fazem a leitura da nova estação:
— Seco por aqui!
— Caiu, ontem, uma chuva miúda chorada em peneira fina.
— Deu em mim. Peguei no lombo. Foi só um orvalho.
— Orvalho é pranto da noite ou uma bênção de Deus?
— Tanto faz. Lágrima é suor da alma, a natureza lacrimeja chorosa.
Intelectual demais para conversa de vaqueiro— disse Robert.
— Nem não — contestou Ravenala — João Velho é letrado. Há de se considerar também que meu avô, transformava a imagem de índia preguiçosa em mulher trabalhadeira e se preocupava com a educação dos vaqueiros. Tinha até escola particular na fazenda Campo Grande.
Desceram a serra que guarda as águas das Sete Passagens. Venceram um morro alto. Adiante, um serrote, mais morro, outro serrote... E foram rompendo estrada, a caminho de casa.
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Adalberto Lima - Estrada sem fim...(fragmento)
Crédito da imagem:(Juramento - 1953-2010:um pedaço da história do Norte de minas. João Figueredo (org.) União Gráfica Ltda 2010
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