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Infanto_Juvenil-->A Conexão Verde -- 03/05/2000 - 01:42 (Edmilson Ferreira da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos












A CONEXÃO VERDE

E. Ferreira

Direitos autorais reservados. Proibido a divulgação ou reprodução por qualquer meio sem prévia autorização do autor.
Edmilson Ferreira da Silva, Rio Branco (AC) 1998



Capítulo I - A ilha perdida

Quando o ônibus parou, os olhos de Pedrinho viram passar letras enormes: A L E R O. Foi no mesmo instante que ele acordou e olhou de lado. BAR BRASILEIRO, estava escrito em letras garrafais.
-Samuel! Samuel! Acorda, que a gente já chegou! -gritou Pedrinho para o amigo que vinha na poltrona ao lado.
-Mmmmm... -espreguiçou-se o Samuel. -Afinal, que lugar longe é este?
-Chegamos em Guajará-Mirim.
-Já??
-Tá ali, ó: “Bem-vindo a Guajará-Mirim. Bar Brasileiro”. -Leu, lentamente, o Pedrinho.
-Você acha longe e diz espantado JÁ! a hora que a gente chega...

Em pouco tempo estava todo mundo do lado de fora do ônibus, uns se espreguiçando, outros se aproximando da lanchonete para um desjejum. Viajaram cinco horas desde Porto Velho até chegar a Guajará, depois de tomar o ônibus de madrugada na escola que recebera os excursionistas de final de ano do Colégio Pontual, de São Miguel Paulista, em São Paulo.
Nem acreditavam: de São Paulo para a Amazônia.
Onde paravam, depois de vários dias viajando pelo interior, tinham de responder aos curiosos, principalmente os alunos das escolas onde ficavam alojados, de onde vinham e para onde iam. Mas tudo era muito divertido, todo mundo acabou fazendo grandes amizades pelo caminho.

Terminado o café, o pessoal estava com um cara bem melhor, menos amarrotada. Maggy, a Margarida, ainda nem tinha arrumado os cabelos direitos e mesmo assim queria passear na Bolívia, do outro lado do rio. Jonas e Wendel, com seus pequenos óculos, só queriam ver o rio, o famoso rio Guaporé, que divide o Brasil com a Bolívia.
De fato, foi fácil chegar ao rio. O Bar Brasileiro, que anunciava servir “a melhor salteña do Brasil” ficava a pouco mais de quinhentos metros do porto, onde um monte de “voadeiras” -lanchas que cruzam o rio de um lado e outro -esperavam a chegada dos turistas que como era praxe visitavam o lado boliviano.
A cidade, Guayaramerín, é uma grande zona franca da Bolívia. Ali se pode comprar uma série de produtos importados por preços bem baixos.

-Ei, o que é que está acontecendo -disse Pedrinho ao se ver cercado por homens falando enrolado, puxando-o de um lado e outro.
-Estão oferecendo táxi -intepretou Samuel, que conhecia algumas palavras em espanhol, a língua falada na Bolívia.
Foram cada um praticamente jogados na garupa de motocicletas, que saíram pela cidade.
-Adonde vamos? -perguntou o piloto a Samuel. -A la plaza, respondeu o astuto, enquanto Pedrinho apenas observava ao lado. E gritou:
-Cadê os carros desse lugar?
-Parece que são poucos. O pessoal gosta mesmo é de motocicleta.

Os outros coleguinhas, cada qual em uma moto, observavam curiosos a cidade e seu povo, marcado por traços comuns. Meninas uniformizadas caminhavam calmamente para a escola. “Elas usam tranças como eu”, pensou Maggy.

Na volta, Pedrinho reparou da voadeira uma faixa de terra no meio do rio, parecendo uma ilha. Lembrou-se das dezenas de histórias que lera sobre ilhas perdidas.
-Parece uma ilha perdida! -disse Hugo, primo de Maggy. Ouvi-lo falar era tão estranho quanto ver Samuel calado.
Iam vinte e duas pessoas na voadeira, contando os dois professores, sr. José e sr. Afonso, e o piloto, um certo Hernandez, cara de índio, jeitão de mexicano, daqueles que se vê em filme de faroeste.
De repente, o porto de Guajará-Mirim pareceu tomar outro rumo. As lanchas na alfândega iam ficando cada vez mais distantes, enquanto que de outro lado a “ilha perdida” estava cada vez mais perto. “Isso aqui está meio estranho...”, pensou Pedrinho, sentindo o vento farfalhar os cabelos morenos.


Capítulo 2 -Operação Burra Cega

A velocidade da voadeira pareceu aumentar enquanto todo mundo ia ficando apreensivo. O professor José virou-se para Hernandez, o sisudo cara de índio, e perguntou:
-Para onde estamos indo, hombre?
- Para la isla -respondeu o piloto. A essa altura, depois de todos gritarem unísssonos “porque?” o medo já tomava conta dos meninos. Hugo não era mais aquele rapaz caladão mas agora falava sem parar. A “ilha” parecia fazer uma série de contornos e com uma habilidade nunca vista pelos passageiros, ao som de uma gritaria infernal, a lancha ia zigezagueando ao seu entorno.
De repente, apareceu na frente um matagal fechado e Hernandez não diminuía a velocidade. O mato ia se aproximando, enormes troncos de árvores, um bambuzal...e nada do piloto diminuir a velocidade.
Os gritos então ecoavam desesperadores: uma moita de bambu aparece e a lancha tchum!, passa por dentro. Não deu tempo nem de abaixar e já estava do outro lado, um canal que parecia ter sido feito por homens e não pela Natureza. A velocidade diminuiu. De mata natural, agora estavam dentro de um jardim, de tão belas arvores e plantas não comuns à floresta que eles já estavam acostumados a ver.
Hernandez desligou o motor. Tinha chegado a um porto, um local onde se notava o cuidado com a beleza: pedras multicoloridas ornamentavam o ponto de atraque.
-Bienvenidos a corazón del mondo, muchachos! -disse o tal Hernandez, gargalhando como se tudo não passasse de uma piada. As meninas estavam em prantos, alguns meninos soluçavam assustados.
-Saiam e venham nos conhecer -gritou um homem alto, cara de índio também, do alto de um morro.

“Nunca mais me esquecerei desse nome”. pensou Pedrinho, depois que o homem disse que se chamava Pablo Rodriguez. Estavam todos numa sala enorme, cheia de quadros onde haviam pintados cavalos, homens armados, outros caídos e algo como muito sangue.
-Contam a história das nossas revoluções -antecipou-se Rodriguez, apontando às obras na parede. -Sei que estão curiosos para saber porque estão aqui. Calma... em muito pouco tempo saberão disso.
E soltou largas gargalhadas.

Passa passa cavalheiro
pela porta do carneiro
três vezes, três vezes:
a última há de ficar

O pensamento de Maggy viajava, ia muito longe até sua casa em Montes Claros, quando na Fazenda Mourão ficava até a hora de dormir brincando de passa-passa. Não conseguia pensar noutra coisa. Pensava em sua mãe, gritando que entrasse para dentro que já estava “muito tarde”: “Ah, mãe, deixa a gente brincar mais. São só sete horas”, pedia Maggy, filha única e mimada de fazendeiros que saíram do interior para viver na cidade grande, desgostosos depois que um boi bravo matou um caseiro muito querido da família.
-Passa, passa cavalheiro pela porta do carneiro três vezes... -cantava em voz alta, misturando soluço à cantiga.
-Não parece assustada, menina. Como é seu nome? -perguntou o tal Rodriguez levantando o rosto de Maggy docilmente pelo queixo.
-O que o senhor vai fazer com a gente, moço?
-Eu perguntei primeiro. Como é seu nome?
-Ma-ma-Maggy...
-Muito bem, senhorita Maggy, vocês foram escolhidos para divertirem-se comigo. Sou muito rico, tenho muitas coisas bonitas para mostrar e brincar.
“O que será que ele quer com a gente?”, indagava Pedrinho.
-Você!
-E-eu?? -gemeu Samuel, ao ver o indicador de Rodriguez apontando para ele.
-Sim, você, meu jovem. Sei que apesar de muito novo ainda é conhecido como “Bill Gates”, sei que é genial para lidar com computadores.
-N-não, n-não sou não... Sei só algumas coisas e...
-Qual o quê! Foi tido como um hacker, entrou num dos maiores sistemas de informações do Brasil sem sair de casa. É jovem e modesto.
“Como ele sabe dessas coisas?”, pensava Pedrinho, achando tudo aquilo muito estranho.
-Samuel - “como é que ele sabe meu nome?” -todos estão aqui porque não teve outro jeito de trazê-lo até minha ilha Corazón del Mondo. Tenho um grande projeto e preciso de alguém diferente de tudo e todos que conheço. Preciso de alguém despojado, livre dos artíficios desse mundo enganador.
“Enganador é ele” , alguém pensou.
-Você precisa ajudar ao nosso grande mestre fortalecer-se para preparar a Terra para os dias de júbilo que virão. Esta é a sua missão, meu caro Samuel.
“Que loucura, meu Deus”.
-Temos um poderoso computador mas não temos um grande programa, um software à altura. Tenho certeza que conseguirá desenvolver o programa para nós, Samuel.
-E-eu? Mas existe gente grande muito mais capacitada que...
-Basta! Você foi escolhido pelo coração puro... afinal, o mestre quer que tudo seja muito bonito e honesto.
“Esse cara é o mais maluco de todos que eu já conheci”, continuava pensando alguém.
-Com vocês, o mestre.
Uma cortina se abriu e apareceu um telão enorme. Surge aos poucos uma figura de uma animal. Vai tomando forma, parecendo um cavalo... os olhos são estranhos...um cavalo pequeno, com olhos de cego...
-Eis o nosso mestre.


Uma espécie de estátua surgiu por entre o jogo de luzes que incandescia a sala de um jeito frenético e piscodélico.
Uma mula, um cavalo, uma égua, um jumento... afinal, que bicho era aquele com os olhos de vidros?
“Uma burra cega”, pensou Samuel, enquanto que de uma porta saía uma rapaz franzino, de óculos fundo de garrafa, terno e gravata, conduzido por um carrinho elétrico. “Mais essa...”, pensaram.
-Eu sou o mestre desta fortaleza, meninos. Meu nome é Cristus mas podem me chamar de mestre mesmo.
-Ao Samuel eu quero dizer que acabei de ler seu pensamento, pois tenho esse poder. Acho excelente que você já tenha até um nome para nosso trabalho -Operação Burra Cega. É um bom nome. A estátua da jumentinha de olhos mágicos inspirou você muito bem. “Eu fiz isso, é?”
-Rodriguez, por hoje basta. Leve-os para seus aposentos.


CAPITULO 3- Não temos mais vacina

-Ele entrou aqui, no CPD! -gritou o segurança Euclides para o colega que estava no fim do corredor. Entraram, vasculharam e não encontraram nada, nenhum sinal do Abílio, o Bilú, o office-boy do hospital que vivia a torrar a paciência dos vigias. Hora de almoço, ninguém trabalhava no CPD. Apenas alguns equipamentos estavam ligados para manter certas situações sob controle, como a temperatura na UTI.
-A gente te pega ainda no almoço, Bilú! -vociferou o Euclides.
Assim que deram as costas e bateram a porta, Bilú saiu de dentro de um armário de aço e riu daqueles dois, alvo predileto das suas brincadeiras. Correu para o computador e plugou na Internet, bater papo com o velhos amigos internautas.
Logo de cara leu uma frase que identificou na hora: “NÃO TEMOS MAIS VACINA”. Ficou apreensivo. Buscou o nome do mensageiro. Era ele, seu colega de classe, o amigão Samuel. Não havia dúvida nenhuma porque os dois sempre se comunicaram por mensagens cifradas. “NÃO TEMOS MAIS VACINA” estava repetida mais de cem vezes com a assinatura “Leumas”, que é Samuel de trás para frente. Havia um endereço, também cifrado. Foi atrás dele. Levou algum tempo para colocar tudo em ordem mas finalmente fez o contato.
Aquela frase significava perigo. O Samuel estava passando por alguma dificuldade. Se fosse situação boa, legal, a senha seria TEMOS VACINA.
-O que está acontecendo? -perguntou o Bilú, escrevendo em código.
-Uma coisa muito louca. Não dá para explicar agora, mas o pessoal da excursão está preso numa ilha acho que perto de Guayara-Merín, mas eu estou no meio da floresta, numa cidade cujo nome termina em Sul e... -SHUT! a mensagem foi cortada.
Agitado, Bilú tratou de agir rápido. Passou mensagem para o Autaninter, um clube de internautas. Mobilizou em poucos minutos milhares de hackers no mundo inteiro.
O Autaninter é dono de um corredor exclusivo, cujo acesso é facultado apenas para sócios de confiança. O grupo que navegava por esse corredor tinha conhecimento de muita coisa importante. Alguns sabiam até de planos militares de países como Estados Unidos e Israel. Outros tinham conhecimento antecipado de um produto revolucionário que só seria lançado em dois ou três anos.
Enfim, o Autaninter tinha os melhores dos melhores.


-Mãe, vou fazer um piquenique no Guarujá com o pessoal da Internet e volto semana que vem.
E pum, bateu a porta do quarto.
-Que história é essa Bilú, como é que você vai sair assim no meio da semana. E a escola? E o trabalho?
-Tá tudo certo. Não se preocupa não, mãe.
E pum, bateu a porta da sala, saindo direto para o quintal e dali para a rua. Subiu no skate e foi para o aeroporto.
Mais tarde a mãe encontraria um bilhete no quarto do Bilú, contando toda a verdade. Primeiro ela ficou apreensiva mas depois consolou-se. “Ah, ele já é um homem”.



O homem olhou para o bilhete da passagem, checou documentos, olhou para o garoto e achou estranho.
-Onde está seu pai, rapaz? Perguntou, mas não esperou pela resposta. A moça no alto falante já avisava que o vôo para Rio Branco, no Acre, estava para sair. O homem contentou-se com os documentos que tinha em mãos. Era de um adulto que, tinha certeza, tratava-se do pai de Bilú.
Mesmo assim, resolveu dar uma conferida no computador. “Passageiros: Abílio Santiago e Abílio Santiago Júnior. Pai e filho com certeza”.
-Tudo certo, amiguinho, aqui estão suas passagens e boa viagem.
“Esse cara nunca poderia imaginar que tudo isso é fictício”, pensou Bilú. Nomes, passagens e dinheiro para a viagem foram forjados pelos incríveis hackers do Autaninter. Tudo perfeito. Entraram nos computadores da empresa aérea e fizeram o trabalho.
Em poucos minutos Bilú havia descoberto onde Samuel estava: Cruzeiro do Sul, uma cidade fincada na floresta do Acre. Também já sabia de sua localização. Os homens que o sequestraram tinham uma base debaixo do rio Juruá -”debaixo do rio...Como é que é?” -disse Bilú quando o pessoal do Autaninter passou-lhe as informações. “Construíram uma base debaixo do rio. Só água e mata. É um pessoal muito poderoso e perigoso. Têm ligação com grandes agências de espionagem e laboratórios internacionais”, foi a resposta.
Bilú estava preparado. Com um palmtop e um relógio sensor concectado a uma frequência de satélite de uma companhia de telefone celular ("hi, hi, hi, hackeada pelo V@ndaluska", ria ele) pela qual podia comunicar-se com o Autaninter de qualquer parte, até mesmo do meio da floresta.
Em Rio Branco, capital do Acre, comprou um jornal para ler enquanto aguardava a conexão para Cruzeiro do Sul. Uma notícia em especial chamou sua atenção: biopiratas podem estar agindo no Acre. Leu com cautela e percebeu que poderia existir alguma ligação entre os sequestradores de seus amigos e o contrabando de informações genéticas na Amazônia.
“A polícia estima que uma Conexão Verde, quadrilha composta por pessoas muito inteligentes, especialista em reproduzir alcalóides só encontrados em plantas e animais da Amazônia, esteja faturando bilhões de dólares com a venda desses alcalóides para laboratórios internacionais. Depois da família holandesa Valastra os agentes querem agora chegar a um grupo de alemães”, era o texto da notícia.
Já dentro do avião, passou todas essas informações para o Autaninter e pediu que às 10h da manhã de sexta-feira fosse passada uma mensagem de alerta para a polícia com as imagens que seriam fornecidas por ele da base espiã.

Apesar de pequena, Cruzeiro do Sul se mostrava uma cidade bonita -e muito calma, bem diferente de São Paulo, onde moravam Bilú e seus companheiros. “Nem a UTI vazia do hospital é tão calmo quanto isto aqui”, pensou Bilú. Então, a única coisa que justificava a presença de contrabandistas era a mina de ouro em plantas e animais da região. Olhou de longe o Juruá, um rio de águas turvas, nem pequeno nem grande -”mil vezes mais limpo que o Tietê”, comaparou o adolescente que estava prestes a estourar a principal rede de biopiratas do mundo.

A canoa balançava de um lado e outro mas Bilú não tinha medo, exímio nadador que era. Olhou para o relógio, que aliás de tão grande chamava a atenção de todo mundo, e calculou que estivesse próximo do local. Mas e a entrada, onde seria a entrada?
Resolveu pedir ao canoeiro que encostasse. Subiu a barranca, e afastou-se do rio. Foi andando e encontrou uma casa coberta de palha, um defumador de seringa. Não havia ninguém no local mas enormes bolas de borracha lotavam o casebre. Bilú sentou-se para fazer alguns cálculos, consultar os hackers. Sentou-se numa das bolas e sentiu-a mover-se. “Será que é uma tartaruga gigante?”, perguntou, espantado.
Á medida que a bola movimentava-se a parede de palha e paxiúba ia se abrindo. Bilú não teve dúvidas: “achei a entrada”.
Um enorme corredor no meio da terra ia sempre para baixo. Bilú olhou as horas. Eram nove da manhã. Em uma hora, o Autaninter acionaria a polícia. Precisava agir rápido.
Deparou-se com um portão de aço com um decodificador de senhas eletrônicas. “Funciona como telefone a cartão... acho que tenho um aqui... vejamos... pronto!”. E passou o cartão mas o portão não abriu. “Não poderia ser tão simples assim”. E tomou uma caneta e outro cartão. Sobrepôs um ao outro de maneira que os magnéticos ficassem face a face. Sobre um dos cartões riscou sinais universais de computador, que qualquer aparelho está preparado para ler.
“É agora”. E passou o cartão novamente. O portão se abriu ao piscar de uma luz verde.

Daí em diante Bilú parecia estar dentro de uma nave espacial. O local era gélido -”parece uma sala de cirurgia”. Andava pé ante pé, receoso de fazer barulho. Por uma porta de vidro pôde observar homens vestidos de branco observando alguma coisa por microscópios. “Estão pesquisando o quê?”, perguntava, olhando atentamente a todos os movimentos. Com o mesmo cartão, conseguiu abrir aquela porta.
Já ia entrando quando uma mão grande e pesada tocou-lhe o ombro.
-Aonde você pensa que vai, garoto? -disse um homem com aparência indígena falando com sotaque espanhol. Bilú sentiu-se apanhado de surpresa. A microcâmera no relógio já estava ligada e filmando tudo o que se passava. Filmou os corredores, o laboratório e agora, o espanhol que o prendia. Acionou o sistema de transmissão automática para o Autaninter, disfarçadamente.

“Olha só isso aqui, parece as naves de Jornada nas Estrelas”, disse um hacker do Autaninter ao ver as imagens. “Já sei de tudo: os caras analisam plantas e animais, descobrem o que pode virar remédio, produto farmacêutico e o sintetizam para vender a fórmula pronta para os laboratórios multinacionais”, descobriu o hacker.
“Bom, vamos lá senhores policiais”.


Bilú foi levado para um lugar cheio de computadores. Sentado a um sofá estava Cristus, que se proclamava mestre de toda aquela engenhoca biopirata. Samuel, que estava sentado a um computador, se vira de repente e corre abraçar o amigo.
-Puxa vida, pegaram você também.
-É, mas acho que vai acabar tudo bem. Eu já sei o que eles querem de você e vou ajudá-lo a entregar o programa o mais rápido possível.
-É, estou trabalhando na construção do BC, um programa de computador para identificar todos os alcalóides e substâncias que compõem os genes dos animais e das plantas. Identificando o código genético de cada um deles, têm-se milhares de opções para fabricar remédios. Os pajés e demais moradores das florestas sabem quais doenças a folha, o caule e a raiz de uma determinada planta combatem. Só não sabem como fabricar em grande escala, em cápsulas que serão vendidas nas esquinas das cidades. É exatamente isto que eles querem e estão me obrigando a fazer.
-E em que pé estão as pesquisas.
-Faz pouco tempo que estou trabalhando...
-Chega desse converseiro sem fim, que não leva a nada. Quero serviço. Agora nós temos mais um geniozinho dos computadores para agilizar o BC. -gritou Cristus, sem mover-se do sofá.
“Estranho esse cara com óculos fundo de garrafa...parece que não consegue se mexer”, pensou Bilú. -” Paraplégico”, cochichou rapidamente Samuel no ouvido do amigo.”É um gênio”.

Depois, deixaram Samuel e Bilú presos na sala e foram para outro lugar. Cristus saiu em um carrinho elétrico, depois de ter sido colocado por Rodriguez, o cara de índio, no veículo.
Assim que a multidão de guardas virou as costas, os dois trataram de fazer contato com o Autaninter. As notícias foram as melhores possíveis. Os hackers já tinham descoberto e passado para a polícia todas as informações sobre a Conexão Verde. Várias empresas faziam parte da poderosa rede de contrabando genético. Agências internacionais de espionagem, disfarçadas de organizações de pesquisa, sustentavam o esquema.
-Meio dia. A polícia deve estar chegando aqui.
-E o resto da turma? -perguntou Samuel aos hackers. “Já foram todos resgatados. Não estavam mais na Bolívia mas em São Paulo mesmo. Foram trazidos em um avião de carga e estavam como prisioneiros em uma mansão no Morumbi”, disse o hacker. Houve euforia. Os dois pularam de alegria ao saber que os colegas estavam todos bem. “Acabei de conversar com o Pedrinho, que manda um abração”, foi a outra boa notícia que chegou do Autaninter.

De repente, um tiroteio. Homens de preto correndo de um lado e outro. O barulho de tiro retumbava na base subterrânea. Era a polícia que acabava de chegar. Eram muitos homens. Numa operação rápida, tomaram conta do lugar, renderam os guardas e libertaram Samuel e Bilú. Tudo foi apreendido: computadores, fitas, material de pesquisa, documentos, relatórios... a polícia não deixou nada.
-Onde estão Cristus e Rodriguez? -perguntou Samuel.
-Quem são eles? Não estão no meio desses aqui? -indagou um cabelos grisalhos.
-Não. -respondeu Samuel.
-Homens, estão faltando dois. Devem ser os chefões. Vamos atrás deles!
Não conseguiram encontrar, depois de vasculhar cada palmo da base. -Fugiram... mas, como? -perguntava o delegado.
-Devem existir saídas secretas -disse um agente.
-Pode ser. Mas de qualquer forma nós perceberíamos. Só existe uma possibilidade.
-Qual é?
-Alguém avisou eles.
“Um hacker! se alguém avisou que a polícia ia chegar, só pode ter sido um hacker que não é da nossa turma” -pensou Bilú. Ficou em silêncio, no entanto.

“POLÍCIA ESTOURA CONEXÃO VERDE”. Foi a manchete do jornal que Bilú vinha lendo no avião. “A polícia recebeu denúncias pela Internet e agiu rápido. Pelo menos trinta pessoas foram presas e cinco laboratórios multinacionais estão sendo investigados. Os líderes ainda não foram identificados mas os laboratórios que usaram do contrabando genético para produzir remédios terão que indenizar a Amazônia...”

Ao descer em Cumbica, dezenas de amigos vieram recepcionar os dois.
Foram dois dias inteiros de festança pelo reencontro. Festa na escola, no trabalho, na Internet e no Autaninter. pedir conferência de uma fatura. O hospital em que trabalhava recebeu vários lotes de medicamentos que pareciam não corresponder com o pedido. A fatura foi enviada ao hospital e o garoto mandado ao laboratório para uma simples conferência dos documentos.
De repente, enquanto aguardava resposta da secretária, Bilú notou a presença de um homem alto, de bigodes, com aparência indígena. Carregava um che
Os dias se passaram e um dia Bilú tinha sido enviado para um laboratório que na mão. Olhava sorrindo para o cheque. “Parece o tal de Rodriguez”, pensou Bilú, não conseguindo identificar o sujeito. “Ah, não é não. A essas horas ele deve estar no exterior, em outro país, escondido de tudo e de todos...”

FIM

Esta é uma obra de ficção infanto-juvenil. Qualquer semelhança com a realidade terá sido mera coincidência.


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