FALTA MUITO MAIS QUE OVO DE PÁSCOA PARA QUEM TEM FOME
Renato Ferraz
A noite vai juntando as peças do quebra cabeça e se formando.
Algumas pinceladas de tons escuros lhe dão cor.
O tempo, incolor, anda mais rápido, sempre no comando.
Os que tem voz logo descansarão, afinal é preciso dá vazão ao estresse do cotidiano.
Os sonhos precisarão da noite como companhia.
Em várias calçadas das ruas e nas esquinas da vida, a dor geme sem ser ouvida.
Vidas invisíveis resistem à dor e a escuridão, diante das intempéries da noite.
Assim vivemos, enquanto tudo aparenta estar normal.
Mas a desigualdade é visível e cruel;
é imenso o contingente dos que sobrevivem à margem da normalidade.
As estatísticas mostram, mas até são benevolentes.
Madrugada, enquanto se dorme dignamente,
muitos terão apenas travesseiros de pedra e lençóis de papelão, como consolo.
Eles não têm o que comer. Não tem teto. Nem voz para protestar.
Não tem a mínima ideia de como será o amanhã.
O sono não compensa tamanha crueldade. Vida sombria!
O planeta faz a sua ininterrupta rotação diária, mais um dia amanhecerá.
E além de chocolate, durante a Páscoa, continuará faltando dignidade para muitos!
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