ALFAZEMA
Nilto Maciel
Ai que vontade de infeliz sentir-me
e escrever elegias para flauta.
Mas sinto apenas um fiapo cinza,
um inefável fio de tristeza
teimosamente preso nos meus olhos.
Veio nas asas de travesso vento,
que o raptou da cabeleira solta
de moça distraída na janela.
E essa tristeza tão pequena e débil
tem cheiro de alfazema e de passado.
Não, não me basta essa melancolia,
eu quero é me sentir vassalo dela
& 61485.; da augusta desventura, da desgraça.
Mas não precisa ser tragédia
de versos longos, versos abundantes.
E nem chorar, me lamentar preciso,
nem ter vontade de morrer tão cedo.
Basta uma dor que doa de verdade,
dessas de todo dia e toda noite.
Pequena dor que dê-me inspiração
para fazer poema lamentoso,
talvez soneto à moda antiga, belo.
E o nunca proferido nome dela
pronunciar com arte, metro e rima.
Um nome que tem cheiro de alfazema
e esconde uns olhos de elegia e amor.
Talvez a dona do fiapo triste
que o vento buliçoso me ofertou.
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