Quem sou eu, ainda não sei com certeza. Só sei que
posso ser, ainda, muitas pessoas que eu não conhecia. É isto que amedronta e, ao mesmo tempo,
fascina: não saber quem se é, ao mesmo tempo que
se pode saber que muitas outras identidades
assomam-se sobre esse mesmo mistério.
Descortinam-se várias personalidades dentro de mim, e algumas conseguem até se expressar: a pagã, a religiosa, a espiritual, a sensual, a contemplativa, a anacoreta, a social, a vibrante, a tristonha, a sexual, a celibatária, a imaginativa, a criativa, a árida, a apaixonada, a fria, a generosa, a econômica, a perdulária, a verdadeira... a verdadeira... qual vem a ser a verdadeira ?
Não existe uma verdadeira. Se quanto mais se vive, mais se aprende, também quanto mais se vive, mais a pessoa se desprende do que antes era considerado irrevogável.
Há um mistério em todos nós. Somos o que achamos que somos. Até que deixamos de ser o que fomos e passamos a ser uma outra somática. Psíquica e física.
E este jogo complicado de ser,não-ser e eu-seria resulta numa pergunta intrigante:
o que NÃO serei?
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Uma (ou duas?) da madrugada de primeiro de outubro, 2003.
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