“Todos os nomes”
José procurava escrever sobre os extraordinários,
Mas, acidentalmente, ao acompanhar uma vida comum,
No dédalo de nomes e papéis, julgou necessário
Saber algo daquela vida,
Algo que os jornais não contam porque só se conta
O que presumidamente é digno de se derramar linhas,
Lágrimas, liturgias, levantes.
A mulher anônima fascinou José, a ponto de usar seu ínfimo poder,
E agir como um pequeno transgressor,
Falando com as vizinhanças,
Mexendo em arquivos alheios.
Ubiquamente, o Conservador observa e não pune,
Há algo de heroico e humano nessa busca,
Saber o que movia àquela pessoa,
Descobrir o que consumiu tal matéria.
Avançando na escuridão, sem fio de Ariadne,
José avança para a busca final,
Ressuscitar um verbete para reacender uma vida.
Cúmplice de um demiurgo ou xamã esmaecido,
Some na noite voraz e outonal.
(E.L. Kamitani – considerações sobre o livro homônimo de Saramago)
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