Usina de Letras
Usina de Letras
156 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62070 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50477)

Humor (20015)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6162)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Carvoeiras -- 28/12/2016 - 23:43 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Temia encontrar com os homens do cortejo fúnebre de Zé Pilão. Durante a noite caminhava na estrada e de dia,  se escondia na mata. Na primeira jornada, viajou sem nada dormir, mas o cansaço abateu-lhe as forças e o fez procurar uma clareira na mata para descansar. Quando o dia amanhecesse, acharia fruta silvestre para comer. Seguiu.

Encontrou um toco de árvore queimada, e ao  redor, não tinha folhas. Limpo, como se alguém houvesse passado por ali há poucos dias. Imaginou tratar-se de caçador, que, como ele, teria encontrado uma cama a céu aberto para esticar o corpo cansado. Deitou-se. A lua surgiu  preguiçosamente, e lançou  frágeis raios de prata sobre aquele corpo estendido no chão. Veio um animal e  postou-se à sua frente. Percebeu que era uma onça parda. Talvez a dona da cama. Segurou o facão e pediu a Deus que não o deixasse ser devorado por aquela fera. Não  retrocederia. Não faria  o caminho de volta a Tremedal. Queria distância do povo de Zepillon. O bicho esturrou. Pururuca sujou as calças. “Morre como homem, Pururuca. Levanta e enfrenta a fera!” Não precisou enfrentar, bastou que se levantasse, a onça pulou nele. Tirou o corpo de lado e a onça chocou-se  violentamente contra o toco. Lembra-se de ter batido com o facão, ora acertando o toco, ora acertando alguma coisa peluda. Lutou até desmaiar e julgando-se  vencido, não teve forças para entregar  sua alma a Deus, simplesmente, caiu exausto.

Não sabia se morrera ou estava vivo, esperava uma luz, algo que revelasse o estágio em que se encontrava. Sentiu dor na perna e tomou acordo de si. Tinha sido  picado por um escorpião. Imediatamente, temeu a onça, mas ela não estava ali, nem viva, nem morta. Levantou-se, caminhou  tremelicando e  encontrou um umbuzeiro carregado de frutos, colheu uns três ou quatro e começou escavar o tronco da árvore com o facão. Sabia que a raiz do umbuzeiro armazena boa quantidade de água. Saciou a sede e depois alimentou-se fartamente de umbu. Recobrou as forças, esperou o sol se pôr e retomou o caminho, menos preocupado, Tremedal estava muitas léguas atrás. Novamente, sentiu sede. Estava dois dias viajado. Subiu numa árvore. Enxergou uma fumaça longe. Andou mais uma hora e deparou-se com um casebre de onde saiu uma velha andrajosa.

— Bom-dia – falou com a voz arrastada.

— Quem é o senhor?

—Pururuca. Tenho sede.

— Parece que vem de longe.

—Fui contratado para trabalhar numa carvoeira e fugi depois de três meses sem nada receber. Faz dois dias que não como. Quero  alcançar Salinas, depois chegar a Montes Claros.

— Você já está no município de Salinas... Vou preparar uma comida. Só tenho arroz e ovo.

— Bom demais! Mas por favor, primeiro água.  Posso assentar nesse banco?

— Se quiser, pode até dormir, enquanto faço o almoço.

Dormiu.

A salmoura fez efeito. A pele secara. Era um cascão só. Não podia encostar na camisa. Virou-se. A pele esticou e quase se rompeu. Marejou sangue em boa parte das costas. Sabia que estava vivo, porque sentia dor.

A onça apareceu.

Abaixou os quartos, ergueu a dianteira e armou o pulo...

— Ei, acorde! Venha comer.

— Pururuca caiu do banco em que dormia.

— Desculpe! Assustei o senhor.

— Nada não! Estava sonhando. Melhor acordar assustado do que morrer. A onça...Cadê a onça?...

— Foi só um sonho. A comida está na mesa.

A mesa era  simples e rústica como a dona. 

***

Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...

Imagens: Internet

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui