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Artigos-->A vida e a frasa: a psique de "A vida é bela" -- 16/05/2001 - 05:19 (Ayra on) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A vida e a farsa: a psique de "A vida é Bela"



“Ser ou não ser, eis a questão”. Ainda hoje vemos a genialidade shakespeariana dar luz a discussões tão modernas e contemporâneas quanto esta dirigida por Roberto Benigni em seu filme “A Vida é Bela”. O presente trabalho apresentado para a disciplina Leitura e Produção tem por finalidade dissertar acerca de textos publicados em jornais que tratam do filme. Tomando a decomposição feita pelos psicanalistas Maria Rota Kehl e Contardo Calligaris, e pelo filósofo José Arthur Giannotti, analisou-se a presença da farsa, suas interpretações e motivos para o seu emprego no filme de Benigni.





O filme conta a história de um pai que, inserido no contexto do holocausto, tenta salvaguardar seu filho de uma visão de realidade e garantir sua sobrevivência. Formulando um jogo onde a vida busca um objetivo de vencer acumulando pontos, dando novos sentidos a realidade.





O jogo provêm da intercessão entre “vontade de vencer” e o “estado opressor” criando o fundamento para a comédia. Esta proposta se realiza na imagem de um “jogo de aparências” na qual os personagens são obrigados a viver entre o “não ser” e o “parecer”.

Para GIANNOTTI (1999) a subversão de sentidos; como servilismo tornando-se divino, a bondade inabalável do que espera a morte na câmara de gás (que ainda pergunta ao carrasco nazista que tropeçara se este está bem.) e o sentimento de vitória após a morte do pai, garante a individualidade dos sobreviventes e torna possível que a história seja contada de maneira serena pelo sobrevivente.





Em seu artigo “Um jogo macabro”, KEHL (1999) utiliza de argumentos da psicanálise. Para a autora, “os personagens de Benigni se dão bem, porque fazem suas próprias regras”, transgredindo o poder. Ela chama a atenção para a questão da alteridade. A inexistência dos “outros” e uma afirmação do “eu” justificada pela cultura do individualismo em que “(...) os outros, os não-eu, não são ninguém. Seu sofrimento não conta” [sic]. Afinal, as “aparências” propostas no jogo tornam cada figurante – mesmo o agressor – apenas um peão. Os outros que sofrem fazem parte do jogo, mas não tem representatividade. Isso cria um reforço ao indivíduo que tenta garantir a própria vitória. CALLIGARIS (1999) utilizou-se da mesma idéia para fazer a analogia seguinte:



“(...) Há o time da esmola e o time da grana. O time da grana não deve abrir mão de nada, o da esmola deve vender chicletes. (...)”





Neste jogo, os outros são negativamente afirmados como “adversários”. Os que não fazem parte do time são os adversários, ficando fácil não se compadecer como a dor. Por outro lado:

“O pai das crianças de rua lá fora também conta para suas crianças que o país inteiro é de fato o cenário de um grande jogo (...)"



Portanto, o faminto passou a ser faminto de brincadeira. Esses pais criaram filhos “felizes” ou alienados para a realidade?





CALLIGARIS (1999) em seu artigo para a Folha de São Paulo afirma que “a vida não é bela”. Existe uma permuta de valores perpetrada pelo pai sobre o filho. A realidade, representada pelo ser, é trocada pela visão existente entre “parecer” e o “não ser”, a mentira. CALLIGARIS caracteriza psicologicamente o personagem Guido como narcisista:





“O pai risonho de Josué está de fato protegendo não seu filho, mas seu próprio assombroso narcisismo, ou seja, está protegendo sua própria infância, da qual nunca saiu e que ele espera prolongar indefinidamente com a ajuda de Josué”





Por fim conclui-se que o indivíduo expresso em “A vida é bela”, segundo os autores citados, condizente com a realidade. Firmando-se na farsa para a sobrevivência e/ou enfeite a vida. Demonstra que a vida somente poderá ser bela se não for real.





Nota-se nos textos estudados uma reação à cultura do indivíduo. O indivíduo não necessita da figura do outro para afirmação do seu “eu”, segundo argumentos da autora KEHL, mas no texto de CALLIGARIS percebemos que a afirmação do indivíduo pai somente se dá na perversão dos sentidos positivos e negativos do filho. Dos autores aqui estudados apenas KEHL lembra a possível analogia feita por BENIGNI a uma cultura individualista de tempos presentes.





A farsa não legitima o indivíduo, pois o aliena. Ao impedir que o filho tenha acesso à realidade do mundo, o pai não corre o risco de não ser objeto do amor filial. Para o filho, o pai cria uma forma de encarar a morte como uma simples etapa do brinquedo, dando uma “aparência” de vitória ao final do jogo. Essa realidade de morte é anulada também para o pai. O conceito de morte (Thanatos) passa a ser o conceito de vida (Eros).



Bibliografia

CALIGARIS, Contardo. Folha de São Paulo. [s.d]

GIANNOTTI, José Arthur. (?)

KEHL, Maria Rita. Folha de São Paulo. [s.d]

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