O homem paramentado postou-se na frente do veículo, estendeu a mão: Pare!
Leonardo desceu da brasília e fugiu a pé. Correndo...
O tempo parou.
Não sabe por quanto tempo ficou em estado de choque, e quando deu acordo de si, outra pessoa ocupava o lugar que fora de Leonardo. Olhou o novo motorista e viu uma coroa de espinhos sobre a cabeça dele. Ele sorriu docemente: ‘Filha, vou te levar para a casa.’
Ramayana desistiu do triângulo amoroso que arquitetara, sem a anuência de uma das partes, e soltou sua voz anserina de ex-presidiária: ‘Pô, meu! Tipo assim... vamos deixar essa mariposa em casa.’
O Pastor que agora dirigia a brasília, parou no Aterro do Flamengo. ‘Acorda, Talita Ravenala! O pesadelo acabou.’ Ela não sabia se teve uma visão ou um sonho. Estava em casa, deitada na cama com traje domingueiro. E ao olhar-se no espelho, viu na testa uma cruz traçada com cinzas. Não era quarta-feira. A cinza em qualquer estação é sinal de fragilidade da vida humana, em constante confronto com a morte.
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
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