A semana passa devagar, escorrem os dias numa ampulheta do tamanho do mundo. Horas, minutos e segundos, escorregam lentamente. O tempo caminha devagar... No relógio da vida, a contagem é regressiva.
Ramayana nunca fora presa por pequenos furtos. Sempre alegava que acontecera apenas um esbarrão, e se passava por estudante, exibindo um livro que não lia. Ramayana cresceu de cima para baixo, como rabo de cavalo e, quando se envolveu com tráfico de drogas, o corporativismo do pai não prevaleceu. Foi apanhada pela ronda do tenente Durão. Não adiantaram os protestos: “Sou filha de oficial.” A informação constava em seu RG. Esse registro em época de ditadura salvou a pele de vários filhos de militares. Mas o tenente Durão era aroeira-de-sete-cascas. Não levou em conta a paternidade da moça. Ela curtiu seis meses de cadeia, em presídio feminino no Rio de Janeiro, e conseguiu a custa de dinheiro, provar que a quantidade de drogas, não era aquela informada no processo. Não negou a droga nos bolsos, alegou que tinha pequena quantidade para consumo próprio, argumento suficiente para alterar o enquadramento de traficante, para usuária. Conquistou a liberdade mediante o arrolamento de falsas testemunhas, e a contratação de um advogado de porta de cadeia, conhecido por Diabo Louro. Escreveu com mão canhestra a história de sua vida e deixou sua imagem gravada em monumento de cera. Dividiu com outra prostituta, as imundices e depravações de uma cafua de bordel na Vila Mimosa, comeu do fruto proibido e bebeu água do Nilo, ferida pela a vara de Moisés. A notícia de sua morte foi divulgada na “Folha da Madrugada”, um periódico de poucas páginas, vendido nos semáforos por um quarto de real.
Era Natal de 2017.
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Adalberto Lima - trecho de Estrada sem fim...
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