Moscas são seres sujos, na concepção mais desleixada da palavra. Carregam doenças, esquistossomoses e provavelmente mais uma dúzia de outras oses que se não trazem, seriam bem capazes de. Mas, essencialmente, são bichos extraordinariamente filhos da puta, cientificamente falando.
Olhando por sobre as lentes cambiáveis de um microscópio modernoso, nos aproximaríamos de duas moscas hipotéticas e aleatórias pousadas em uma prosaica tira de salame. Desse ângulo, perceberíamos que na verdade elas não estão comendo e babando no seu salame, o que seria bastante constrangedor escrito dessa maneira.
O fato é que elas estão lá rindo e literalmente esfregando a bunda no seu salame. – Aqui, novamente, a chance de abrir um parêntese óbvio sobre está última frase, explorando seu potencial duplo-sentidológico, mas seria tedioso e simplesmente não estou no humor.
Então, voltando ao assunto de estudo: elas deliberadamente, e se achando muito engraçadas, roçam seus traseiros insectóides – e você sabe, um traseiro insectóide nunca é exatamente bem limpo – na maior cara de pau. Aliás, já foi provado que elas pousam na merda única exclusivamente com o intuito de depois se esfregar no nosso rango.
Esse ritual em nada tem a ver com algum processo seletivo natural e evolutivo da espécie, muito embora pesquisadores afirmem que a mosca de bunda mais vermelha costume ter mais chances com a fêmea. O ritual é pura e simplesmente uma piada repetida a gerações, o que não ajudou em nada na evolução das mesmas. A única coisa, aliás, que as impediu de desenvolver seus cérebros cientificamente provados como excepcionalmente dados a matemática e algumas partes da geografia política. Em compensação, são cérebros infinitizalmente ridículos no que tange a literatura, principalmente a fase romancista.
Assim sendo, elas continuam, talvez por opção, com seu papel ínfimo, babaca e aporrinhador no Universo, ao invés de governá-lo com punhos de aço – caso tivessem evoluído até tê-los – e mantê-lo sob o olhar vigilante de seus 262 micro-olhos, em média. Mas para uma boa e típica mosca, que geralmente só quer continuar cuidando de sua vidinha, não importa. Afinal, perde-se o Mundo, mas não perde-se a piada e, esfregar a bunda na comida humana é, e sempre será, insuperavelmente divertido. Um tipo de humor físico, ao que parece.
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