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Humor-->A porteira interdimensional -- 28/03/2005 - 21:31 (Helinton Pires Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
É sabido que o interior, mas precisamente o campo e mais apontadoramente o do Rio Grande do Sul, costuma ser um lugar boçalmente desprovido de vida social ou qualquer coisa que alegre um ser humano típico. Inversamente proporcional, é a quantidade de fatos extraordinariamente incríveis, provavelmente impossíveis e certamente mentirosos, que assolam estas regiões geográficas.
De cotidianas e cansativas abduções alienígenas a abóboras de 700 kg e 5 cm de comprimento, esses são lugares que parecem esponjas cósmicas da esquisitice Universal, criando um buraco negro invertido onde toda a maluquice é regurgitada na Terra e cuja expressão matemática seria algo como 5 log de 24 - 4545/343 raiz de 7456 elevado a 89, mais ou menos.
Assim, toda sorte de acontecimentos escabrosos pipocam neste ponto privilegiado do cosmos. Há quem diga também, que tudo não passa de uma ilusão coletiva causada pela combinação alucinógena de cuca, salame e polenta brustolada. Outra hipótese seria a falta do que fazer, ou simplesmente que o pessoal no interior mente muito mesmo.
Mas os fatos que envolviam o desaparecimento de uma vaca, uma família de patos, uma formiga - a quem ninguém deu falta – e a menina mais bonita da cidade, ainda eram cobertos por uma penugem sobrenatural, ou no mínimo por um casaco muito esquisito mesmo. Ninguém deu bola para os patos, a vaca era meio ausente mesmo e o sumiço da formiga só causou alarde dentro do formigueiro, onde ao raiar do outro dia a falta de uma operária fez atravancar todo o processo de coleta, – que era extremamente burocrático – matou a rainha de desgosto e assim ruiu com todo a economia da colônia, levando ao pânico generalizado e saques nos estoques de folhas picadas e migalhas de Trakinas. Mas ninguém deu bola pra isso também.
No entanto, agora que a Eliviane Strukskulowsk se fora, a coisa passou a ser séria. Um estado de calamidade pública, foi o que disseram os homens da cidade, causando um certo repúdio velado e loucamente homicida de todas as demais mulheres. Eliviane era de uma beleza simples, quase sem graça. Fora segunda prenda na XIV Festa do Quiabo do município e tinha outros títulos menos importantes. Era de uma lindeza rústica, de traços duros e possuía o andar deselegante de um cavalo que acaba de nascer, porém, muito decidido.
Todos os sumiços, aparentemente, tinham algo a ver com um milharal muito sombrio e sinistro, que era assim só a noite, porque de dia tinha muito de alegre, poético e inspirador. Suspeitava-se sobre o local por causa de uma testemunha estrategicamente inserida no contexto para encurtar a estória. Essa testemunha - que não tinha nada mais interessante pra fazer- jurava ter visto desaparecer abruptamente do nada e para o nada, a faceira menina Eliviane.
O dito cujo, que dizia ser aquele dia casualmente um dos dias em que perseguia a moça – geralmente segundas, quartas, sextas e domingos depois da missa – havia visto tudo, embora discordasse veementemente dos seus olhos de jeca. A guria entrara no milharal correndo, com uma mão na barriga, gemendo e arrancando cascas de milho no caminho, dizia ele. Achando tudo muito estranho e tremendamente estúpido, ele resolveu adentrar sorrateiramente atrás dela. Logo nos primeiros passos, sentiu um ar podre, parecido com o de repolho cozinhando, tomar conta do local, alertando todos os seus sentidos para o perigo e arrepiando todos os pêlos do seu nariz.
Correram até que, no meio do milharedo, chegaram a um ponto desbastado circularmente onde avistaram, ao centro, uma porteira. Não se tratava de uma porteira comum, além de arremates Schwartz reforçados de primeira, ela estava suspensa a uns 10,2 cm do chão, não levava a lugar nenhum e não era continuada por nenhuma cerca, o que a tornava assustadoramente besta.
Eliviane, curiosa, mesmo cambaleante, apertando as pernas e produzindo sons estranhos, abriu-a e atravessou-ª e no mesmo micropentelhonéssimo de segundo, quando seus dois pés tocaram o outro lado, sumiu no ar sem deixar vestígios e sem nenhum efeito especial marcante, o que era um tanto decepcionante, mas ainda assim curioso. Dois olhos jecas estavam boquiabertos e uma boca esbugalhada neste instante.
Com o passar do tempo a porteira para outra dimensão - como os locais passaram a chamá-la - tornou-se famosa no Mundo inteiro, atraindo turistas, dinheiro, desenvolvimento, violência, criminalidade, prostituição e decadência total, mas ou menos nessa ordem. Mas antes disso tudo acontecer, abandonou-se a idéia da XV Festa do Quiabo em favor do I Festival da Porteira Interdimensional, que foi muito mais lucrativo.
Claro que, no dia-a-dia, a porteira era usada com propósitos bem menos nobres do que o do lucro absoluto. Usavam-na como depósito de lixo, de pessoas pouco interessantes e muito regularmente, a piazada se divertia mijando no outro lado só para ver a coisa toda desaparecendo sem formar poça no chão. Fazia muito sucesso entre eles também, o negócio de jogar a roupa dos gringos que tomavam banho nus no riacho ao lado. Uma sacanagem básica na escala de pau-no-cuzises, mas efetiva no que tange o divertimento do babáco-trivial de todo dia.
O que não se sabia, porque ninguém estava preocupado em descobrir, era que tudo que atravessava aquela porteira infernal era materializado em algum ponto vazio, frio e pretão do Universo, que cheirava a repolho cozido. Isto tudo em um ponto exato que, por ironia, se encontrava a uns 10 km do chão desse mesmo vazio, o que dava ao pobre coitado que lá fosse jogado, tempo para ponderar sobre o que fora a sua vida ou, mais comum, se entregar ao pânico histérico do terror proporcionado por uma queda livre cega e fedida, até o baque violento com o solo que, vejam só, era coberto de grãos de milho pontiagudos.
Já do lado de cá, a porteira continuou a ser explorada economicamente até o dia em que o jeca - aquele mesmo - que havia se entregue ao álcool após o sumiço de sua amada Eliviane, invadiu o milharal atropelando um formigueiro - que recém havia se recuperado da morte da sua rainha e dois golpes de Estado, vivendo uma época de paz e prosperidade – e atingindo em cheio a porteira intergaláctica, que se estraçalhou para todo o sempre, perdendo seus poderes sinistros e, dependendo do uso, maquiavélicos.
Ninguém ficou muito contente com o jeca – que agora, mas do que nunca, merecia essa conotação preconceituosa – e, com muito gosto, teriam dado-lhe um pontapé interdimensional na bunda. Mas como isso não era mais possível, contentaram-se em arrancar-lhe os membros e perfurarem seus globos oculares.
Portanto e, agora sim, o município foi levado a violência, criminalidade, prostituição e decadência generalizada. O que era muito impressionante, já que tudo aconteceu na mesma semana, sobrando tempo de ir a missa domingo, para quem ainda estivesse interessado em salvar sua alma.
Aquela realmente não era uma cidade típica de interior e os fatos acima só não entraram no Guiness, porque se descobriu que lá pelos idos de 1970, em uma fazendinha do Kansas, havia existido não só uma porteira interdimensional, como também uma escada rolante – o que era novidade na época – hexapandimensional com estacionamento para 150 carros e algumas bicicletas.
Já a incrível abóbora de 700kg e 10cm de comprimento, estava lá, página 56 com uma nota de rodapé que dizia: * fato questionável. Nosso Estado é realmente impressionante.
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