À saída de um restaurante vegetariano, em São Paulo, recebi um tablóide. Nele apareciam todas as vantagens da alimentação à base de soja. Mas não foi isto que me chamou a atenção. No final, vinha um pequeno estudo sobre as maneiras de retardar o envelhecimento e prevenir (ou remediar) as falhas de memória. E como já entrei na idade em que elas costumam acontecer com certa frequência, interessei-me logo. Tratava, principalmente, de exercícios que podem ajudar nossa cabeça a funcionar de modo diferente, estimulando o cérebro.
Primeiro,fazia alusão à s palavras cruzadas, das quais já conhecemos os benefícios. Depois, sobre coisas novas a que os idosos devem se dedicar. O estudo de uma língua estrangeira, por exemplo, através do qual a pessoa não só descobre um mundo novo, como é obrigada a memorizar palavras desconhecidas. Passaram rapidamente sobre o item computador, embora eu ache que aprender a lidar com essa máquina, depois de uma certa idade, seja tarefa bem complexa. É preciso que a pessoa esteja realmente interessada. Para a geração acostumada aos aparelhos elétricos, o maior temor diante do micro é de apertar uma tecla errada. Tem-se a impressão de que uma explosão ocorrerá. Mas o estudo não se deteve a esses detalhes. Dizia que o esforço para aprender coisas novas é que faz bem.
Em seguida, apresentava uma série de exercícios, alguns deles surpreendentes:
1) fazer compras em supermercados diferentes
2) utilizar caminhos e transportes diversos para ir ao trabalho
3) Conversar com pessoas que não sejam do seu meio social
4) Olhar as horas com o relógio diante do espelho
5) Virar as fotografias (expostas na casa) de cabeça para baixo
6) Tomar banho de olhos fechados
7) Escovar os dentes trocando as mãos
8) Andar de costas pela casa
Quanto aos três primeiros,não há grande novidade. O quarto e o quinto pareceram-me bem louquinhos. O sexto, sétimo e oitavo é que me agradaram mais. Logo no dia seguinte comecei a exercitá-los.
Creio que todo mundo saiba tomar banho "de cor". Para fazer o mesmo sem enxergar, basta um pequeno esforço. Escovar os dentes trocando as mãos é mais complicado. Praticar este ato com a mão dominante é rápido, num vapt-vupt terminamos.Já com a outra mão... provoca risos e com a boca cheia de espuma. Experimente e verá. Andar de costas pela casa é seguramente o mais difícil deles. Primeiro porque sem enxergar o caminho damos algumas trombadas, embora saibamos onde estão os móveis em nosso ambiente. Depois, porque parece loucura. Temos a impressão de que o mundo virou do avesso.
O objetivo dos exercícios é justamente o de experimentar o não experimentado e obter a participação de todos os sentidos, desenvolvendo a atenção, a concentração e o tato através de sensações novas. Eles agem como pontes de conexão entre diferentes estruturas sensoriais. Médicos e estudiosos do envelhecimento deram a eles o nome de Neuróbica.
Dizia ainda o estudo que as rotinas do comportamento estão entre as causas básicas da atrofia das conexões entre as células nervosas do cérebro. Que o exercício neuróbico eficiente deve envolver um ou mais sentidos de modo novo, prendendo a atenção e acrescentando elementos inesperados à atividade rotineira. Quer dizer, quebrar a rotina e inovar faz o cérebro render muito mais.
Em outras palavras, esses exercícios nos levam a desligar o automático para que nossa cabeça funcione melhor.
