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cronicas-->O passeio do morto -- 08/09/2007 - 07:58 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O passeio do morto

Nessas minhas andanças por esse mundão de Deus, encontrei todo tipo de gente. Certa pessoa me chamou a atenção pela história por ela contada e pelo tipo que ela era. Bento era o seu nome e a profissão, acreditem se quiser, caixeiro viajante. Todavia, não era um vendedor ambulante, pois dirigia uma fubica que dava pena só em olhar. Neste seu Ford Bigode, do tempo do rascunho da Bíblia, ele carregava e vendia quase tudo, desde guarda-chuva até bola de futebol. Vendia pomada Minàncora, remédio para gados, disco de vinil, máquina de escrever, blocos para anotações de fiado, enxadas, pás, ancinhos e tantas outras bugigangas que fica difícil descrever todas.
Bento me contou que tinha um freguês que sempre comprava algo, e sempre o convidava para um café ou até mesmo para almoçar. Ele que não era bobo passava na casa desse colono, lá pelo meio dia para morder um almoço.
Certo dia bateu na casa desse conhecido e bateu palmas:
- Oh de casa! Seu Avelino, o senhor está em casa?
Aparece na porta, sua esposa, dona Adriana e lhe responde:
- Seu Bento, pode entrar.
- Bom dia, como está a senhora?
- Eu estou bem, vou levando a vida.
- E o seu Avelino, por onde anda?
Dona Adriana com o rosto triste lhe responde:
- O meu Vilino, se foi, faz um mês que ele morreu.
- Meus pêsames, mas como isso aconteceu se mês retrasado ele tava forte.
Dona Adriana começou a falar sem parar:
- Apareceu uma ferida, no beiço, lá nele, passamos merthiolate e a pomada Minàncora que o senhor nos vendeu. Nada de a ferida diminuir ou desaparecer. Foi ficando feia, apostemada e até cheirando mal. A minha filha levou ele no médico, lá na cidade. Tiraram um pedaço da pele para fazer a tal de biópsia, e o resultado foi o que não se esperava, ele tinha aquela doença ruim que eu não gosto nem de pronunciar o nome.
Bento interrompeu um pouco o monólogo e perguntou:
- Fizeram tratamento?
- É, acho que sim, mas não teve jeito, uma semana depois ele morreu.
- Coitado.
Falou com sinceridade o Bento.
Dona Adriana continuou a explanação:
- O pior estava por acontecer. Ele morreu às quatro horas da tarde, e nós o esperamos até a noite, e nada do meu Vilino chegar. Fumo a pé até o orelhão lá na praça da igreja e a gente ligava pro hospital e eles diziam que estavam fazendo curativo na ferida e dando banho no meu velho. Até que lá pelas dez horas da noite essa casa tava entupida de gente tomando café, comendo broa, rosca e pão e eis que chega o carro da funerária.
Bento comentou:
- Até que enfim o seu Avelino chegou?
Dona Adriana, continuou sua exposição:
- Aí é que o senhor se engana. Quando eu fui ver o meu velho no caixão, não aguentei:
- Esse não é o meu Vilino.
O homem da funerária me disse:
- Lógico que é, quando morre, a pessoa fica diferente, fica branco e incha um pouco.
A comadre Luiza que estava perto de mim confirmou:
- Lógico que não é o compadre Vilino; o compadre nunca teve bigode.
O moço da funerária pegou um aparelho que parecia um radinho de pilha, falou com alguém e veio a notícia:
- Vocês me desculpem, mas houve um engano. Nós levamos o seu marido para o Progresso e esse que está aí deveria estar lá.
- Levaram o morto de volta e lá pelas dez da manhã do outro dia é que trouxeram o meu Vilino.
Dona Adriana ainda comentou com o seu Bento:
- Sabe o que eu pensei enquanto olhava o meu velho, e que ainda não falei para ninguém?
Pergunta Bento curioso:
- O que foi dona Adriana?
- Vilino, tu nunca quiseste me levar pra passear em lugar nenhum. Agora depois de morto tu foi bater até lá pras bandas do Progresso, né!
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