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cronicas-->Médicos a bordo -- 09/09/2007 - 20:46 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MÉDICOS A BORDO



Naquela viagem em que entrei de óculos escuros no avião, só um homem conseguiu conversar comigo. É que ele mostrou-se mais interessado em meu barrigão do que pelas lentes de sol. Na verdade, grávida de oito meses, minha barriga estava enorme e também chamava a atenção.
Na primeira oportunidade, fez um comentário. Teria eu permissão para saracotear assim pelos ares naquele estado? Apresentou-se, era médico. Diante de tal autoridade, contei-lhe que meu doutor havia me liberado, sim. Eu estava bem de saúde, não havia motivos para não passear. Se fosse de carro, talvez ele tivesse feito restrições. Poderia pegar uma estrada esburacada, poderia sofrer com solavancos por causa de freadas mais bruscas. Tantas coisas passíveis de acontecer no caminho... Isso tudo sem falar em colisões...
Tentei desviar a conversa, não queria pensar em acidentes. Tudo, menos cogitar em desgraças. Estávamos lá no alto, pensar em coisas ruins nos levariam fatalmente a imaginar uma queda da aeronave. E se isto acontecesse, babau, nem eu nem meu bebê sobreviveríamos. Pensando bem, nem ele, especialista em salvar vidas. O homem, porém, não se intimidou. Se precisasse de alguma coisa, era só chamar... Passou então a contar-me casos de grávidas que deram à luz em situações inusitadas. Em aviões ainda não havia presenciado, mas como outros colegas viajavam no grupo, eu estava garantida. Vire esta boca para lá, pensei e quis bater na madeira, mas agradeci, disse que me sentia muito bem, certamente não precisaria de nada.

No dia seguinte em Buenos Aires, para minha surpresa, encontrei os médicos instalados no mesmo hotel. Estamos aqui de prontidão, disse-me o palrador. Depois não os vi mais.
Passamos, José Aníbal e eu, alguns dias naquela cidade visitando os lugares mais badalados. Passeamos no Parque de Palermo, tomamos lanches em confeitarias, andamos de barco pelo rio Tigre, olhamos vitrines e até encontrei a loja de onde veio Mariquita Perez, a boneca mais querida de minha infància. Nas noites portenhas estivemos com amigos, jantamos em casas da moda, vimos dançarinos trocar complicados passos de tango.
Na hora do retorno, encontramos no aeroporto os mesmos médicos na fila para o nosso avião. E lá veio o falante oferecer seus serviços. Assegurei-lhe que o bebê tinha gostado do passeio, comportara-se muito bem, não havia motivos para maiores preocupações.

Assim que decolamos o comandante explicou que o vóo passaria por Foz do Iguaçu, mas excepcionalmente não faria escala naquela cidade. Iríamos direto para São Paulo.
A viagem transcorria plácida quando, de repente, as comissárias passaram a agitar-se. Logo começamos a ouvir gemidos de uma mulher. Corre daqui, corre dali, os doutores levantaram-se para acudir a enferma. Todos os passageiros respiraram aliviados, que bom termos médicos a bordo! Imediatamente pensei que o "meu guardião" faria seu primeiro parto no ar.
Enganei-me. Quem necessitava de socorro era um garoto ardendo em febre. A mãe chorava. Deram-lhe remédios, cobriram-lhe o rosto com toalha úmida. Nada mais podiam fazer naquela circunstància. Aterrissamos em Foz do Iguaçu. A ambulància que já aguardava no aeroporto levou mãe e filho diretamente para o hospital. Depois seguimos a viagem.

Em Congonhas, ao se despedir, o palrador não deixou por menos: "Ainda bem que não foi você, hein?"
Três semanas mais tarde dei à luz a uma menina prematura. Felizmente, na Maternidade São Luiz, a mais moderna da época.

Que boquinha a daquele médico!

Beatriz Cruz
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