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cronicas-->Conflito de gerações -- 22/09/2007 - 10:41 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Conflito de gerações

Fernando Zocca


Numa sexta-feira à tarde, navegando pela Internet, por meio de um computador instalado em uma Lan House de Piracicaba, precisei fechar os ouvidos com protetores de silicone, tamanha era a algazarra produzida por pré-adolescentes que se divertiam com videos games, na mesma sala em que eu estava.
Pensei em pedir que reduzissem um pouco o volume da algaraviada, mas para isso seria necessário iniciar um diálogo. E como eles não me conheciam e nem eu a eles, perguntei assim, meio ingenuamente, para começar a conversa:
- Alguém aqui conhece o Jorge Ben Jor?
Notei a redução do ritmo frenético do furdunço, mas ninguém respondeu. Resolvi insistir e mandei ver:
- Ele mistura samba com guitarra, isto é, usa guitarra para tocar samba, e já gravou um monte de discos.
Então um dos menores perguntou, sem tirar os olhos da tela, ao mesmo tempo em que com frenesi precionava o teclado envolvido por gritos de "mata ele, mata ele".
- Ele é louco?
Não tive tempo para respirar e dizer que se tratava de um velho cantor daqueles tempos em que Roberto e Erasmo Carlos iniciavam ainda suas carreiras, quando um outro, de forma açodada completou:
- Não gosto dele!
A sensação de estar completamente fora do contexto começou a dominar meus pensamentos, afinal eu falava de um assunto desconhecido, de algo inusitado, uma língua estranha, enfim.
Então um baixinho que utilizava um computador lá do canto esgoelou:
- Ele vai matar!
Eu já não sabia se eles falavam sobre o tema que os envolvia ou se respondiam às questões sobre o meu assunto bem tímido. Mas o alvoroço aumentava. A zoada era terrível.
Na dúvida sobre se o que eles diziam referia-se ao assunto que não fosse o das telas, tratei logo de proteger o artista:
- O cidadão é honesto, muito responsável, toca muito bem, ninguém conseguiu provar ser ele ladrão de fios de cobre, ou saltador de muros; é flamenguista, tinha uma nega chamada Tereza, sua banda era a do Zé Pretinho; é casado, pai de anjos, gente finíssima. Como é que pode você afirmar que não gosta de cebolas, se nem ao menos as experimentou? Isso é preconceito!
- Guitarra ele vai! - Esbravejou outro nervosinho.
Eu tive então a certeza de que ninguém ali, naquele momento, queria saber de cantor, samba, cantoria, músico ou outra coisa que não fosse video game.
Certifiquei-me também que se fosse pedir ao pessoal que reduzisse o volume das patacoadas, bastava ser direto, sem rodeios ou transitar por assuntos excêntricos. Mas como já iniciara a palestra com o grupo, achei que, com jeito, ele me atenderia se lhe rogasse menos efervescência.
Não deu nada certo! A molecada prosseguiu com o rebuliço e eu cri, naquele instante, que se precisasse mesmo de menos ebulição deveria mudar-me para outra sala.

Desconectei-me da Internet e ao sair rumo à portaria onde solicitaria outro local, outro computador, pude ouvir uma das crianças dizer às minhas costas:
- Cai fora, "véio"!
Ao meu amigo Jorge Ben Jor, desejo expressar minha admiração, dizer que sou fã e consignar ter sempre comprado as músicas que lançou na praça.
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