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Contos-->Chá das dezessete e trinta -- 13/03/2017 - 19:05 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ouviu sons de chinelo na calçada. Aguçou os ouvidos, debruçou-se na janela. O peito ofegante à espera daquela, cujos passos cadenciam o compasso e as batidas ritmadas de seu coração. Transeuntes num vaivém vão, outros vêm. Passam apressados.
Alucinação.
 Fernão dizia que fora seguido por um disco voador, que uma luz tentou sugá-lo para dentro da nave.
— Para com essas coisas! Para que te quer um extraterrestre?
— Então não acreditas também, que tua mãe me aparece cercada de diabos, querendo me levar paro o inferno?
—Minha mãe era uma mulher justa. Se os justos vão para o céu, ela está lá, portanto, não te fará mal algum.
Ele se irritava. Pensamentos estranhamente sugerindo agressões, se manifestavam nele. Calmamente Vanini trazia chá-de-jasmim e um comprimido de fumareto.  Fernão recusava..
—Ontem não tomaste o remédio nem o chá? Beba e vê se não interrompe mais o tratamento!
Agia com paciência e cautela para não contrariar o marido, e assim, quando convocada para cobrir a falta de algum colega, deixava recado sobre a mesa, na tela do computador ou no criado-mudo. Sempre estava disposta a servir a empresa, que lhe pagava em dobro pelo cumprimento de serviço em regime de urgência. Suportou com resignação todo o sofrimento advindo do convívio com Fernão, até quando pôde. Mas desta vez, em poucas linhas, fez a mente dele dar um giro de trezentos e sessenta graus em torno de sua história, em torno do casamento com ela e dos sete anos de espera por um filho que não veio.
Fernão estava apreensivo. Trêmulo, abriu a porta do apartamento, mas não havia ninguém em casa e logo ele  pensou que sua mulher estivesse fazendo trabalho extra, cobrindo escala... Escancarou as cortinas da sala e depois, as  do quarto. Sobre o criado, descansava o bilhete deixado por Vanini ‘Meu teste de fertilidade deu positivo, e recusas fazer o teu. Ainda assim me insultas dizendo que não sirvo nem pra parir. Voltarei para assinar o desquite. ’ E rabiscou seu nome de solteira, deixando sinais de pouca firmeza no punho e muito tremor no coração. Vanini Agne Saboia Morato Potiguará saiu de casa.
 Fernão tentou abrir a janela da sala, como se o fizesse para libertar um pássaro da gaiola e foi impedido por um temporal, que desabava lá fora, uma tempestade em redemoinho invadia sua alma. Quanto tempo ele teve, e não teve tempo: sete anos de casado e tudo somado não era nada, nada que pudesse impedir a separação. Ele não podia mais esperar que cessassem ventos e trovoadas e uma nova estação se lhe surgisse, trancado entre quadro paredes de um apartamento. Cansara de esperar que a mulher voltasse... então, rasgou o  luto da separação e  saiu. Tomou o metrô e desceu na Estação Carioca. Na estação, Ravenala  se sentiu seguida por um homem de terno escuro, cujo rosto lhe pareceu familiar. Reconheceu nele a imagem do passageiro que lhe dera o telefone anotado em um pedacinho de papel. Ela  jamais diria que lhe telefonara durante dias seguidos... Por sorte, Fernão a poupou deste constrangimento, informando-a de que estivera fora do Brasil. Entrou na Suport Informatic. Ele a acompanhou.
 — É mais um freguês,  pensou.
O rapaz indagou  o preço de uma placa-mãe para seu  notebook. Pagou e retirou-se, não sem antes filmar com sua retina o perfil da balconista que dizia sorridente: “Volte sempre!” Tudo foi muito rápido, e assim que ele se retirou, curiosamente, Ravenala   leu na segunda via da nota de balcão: Fernão de Noronha Capelo — Praça General Osório, Rio de Janeiro.
Fechou a loja e passou na confeitaria. Ali sempre aparecem pessoas jovens, exibindo exuberante beleza, outras, nem tanto. Também outros  marcam presença, velhos e gente de meia-idade  com ar de intelectual fecham grandes negócios em diálogos quase sussurrados,  enquanto tomam o chá das dezessete e trinta.
Ela estava só. Sozinha entre uma multidão de estranhos.
***

Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...
Enviado por Adalberto Lima em 13/03/2017
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