Era um dia comum, uma quarta-feira como tantas outras. Tomei um banho, fiz a barba, coloquei minha camisa social, arrumei minha pequena maleta e tomei meu café.
Entrei no carro e dei a partida, mas ele não atendeu, a luz da bateria estava acesa, provavelmente ela descarregou, pensei. Olhei no relógio, faltavam vinte minutos para as nove, meu horário de trabalho, não dava tempo de concertar. Não pensei duas vezes, fui para o ponto esperar um ónibus.
Subi nos degraus e percebi que há muito tempo não andava de ónibus. Estava lotado, as fisionomias estavam cansadas, consegui uma cadeira por sorte, agradeci como se tivesse fechado um grande negócio.
Alguém me chamou a atenção, um senhor de uns 55 anos, camisa branca encardida pelo tempo...seu rosto tinha marcas profundas que a idade ainda não deveria ter lhe dado...provavelmente o sofrimento de muitas viagens de ida e volta...de muito trabalho e pouca recompensa...a luta intensa do dia a dia.
Percebi o quanto fico isolado em meu confortável carro e quanto isso me tira da realidade contida nas marcas cansadas daquele senhor.
É claro que vou continuar indo de carro, mas de vez enquando me aventurarei a trabalhar de ónibus, pra não ficar tão longe das marcas que eu não tenho.
Já ia esquecendo, levantei-me e dei meu lugar para ele, como se tivesse fechado outro grande negócio.
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