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Contos-->Filho de Keen? -- 13/05/2017 - 17:05 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos











Estaria o pai de Robert   ainda vivo?




O pai não estava no  RG,   nem no   álbum de família. Dona Leide falava vagamente de um colega de trabalho, um certo intelectual...E referia-se a ele como finado, sem citar o nome: o finado era assim... o finado era assado...No dia dos pais era um tormento para Robert  . Algum menino maldoso lhe dava os parabéns: ‘Feliz dia dos pais!’ Outros,  indiscreta e estultamente perguntavam: ‘Você tem pai?’ Alguém nascer sem ter um pai? Mesmo que morto, continua sendo pai. Muitas vezes recebem por acréscimo a denominação de finado ou defunto. Finado   fulano... Finado sicrano. Mas finado não é o pai. O pai é o fulano... ou o  sicrano... Ravenala também tinha vontade de perguntar sobre o pai de Robert  , mas não sabia como.
No encontro seguinte, quando Robert   se preparava para deixar a casa, Ravenala adiantou dois passos e postou-se na frente dele.
— Se eu te convidar para almoçar comigo amanhã, tu virás?
— Claro! Isso é um convite?
— Receba-o como tal.


Naquele segundo domingo de agosto, ela buscou a forma mais suave para abordar Bobby, de modo a não machucá-lo, ao contrário disso, deitar azeite sobre as feridas causadas pela ausência do pai.



— Mãe, Bobby pode almoçar conosco hoje?


— Tanto faz. Qual a diferença? O filho daquela vizinha chata não sai daqui mesmo! Que diferença faz vir hoje ou amanhã?
Tanto faz quer dizer muita coisa, ou não diz nada. Na verdade, revela indiferença e desprezo.
Ela esquecera que era dia dos pais. E sequer fizera um almoço especial para o marido.
De longe, dona Leide o acompanhou com as vistas, até que a portinhola da mureta se abriu, e Bobby entrou.Ravenala o esperava, estruturando frases como: ‘Nunca me falaste de teu pai!’ Não esta não... “Devo levá-lo  a conhecer a Barbie que que ganhei? Faz tanto tempo! Talvez ela expresse mais os interesses de outrora. E se Robert   perguntar se ainda brinco de boneca? Correrei  o risco de passar por um vexame,  contanto que toque o coração Bobby, sem machucá-lo.’
— Olha como é linda!
— Não tens também o Keen?
— Não! Não o tenho.
— Barbie precisa de um namorado. Vou dar o endereço dela para o Keen.
Mesmo sabendo que  ia guardar o Keen numa caixa, como fizera com a boneca  Emília, e com a Barbie; Ravenala não poderia perder a oportunidade de simular uma família, senão fingindo interesse  em brincar de boneca.
— Vais me dar o Keen de presente?
— Foi isso que eu quis dizer, quando falei em dar o endereço da Barbie para ele.
— A família ficará incompleta. Falta o filho!
Acostumado a brincar com suas miniaturas de fórmula 1, Robert   jamais imaginara em um filho de Barbie e Keen. Ele mesmo era filho de uma família incompleta.
— Quem são os pais de Barbie? E quem são os pais de Keen?— perguntou Robert  , sem querer perguntar. A palavra lhe veio à mente, por falta de outra mais oportuna.
— Bem, no reino das bonecas... Keen e Barbie podem representar Adão e Eva, pais de uma grande nação de bonecos, e os primeiros seres a habitar a face da terra, portanto, como pai, eles têm o próprio Criador, explicou Ravenala.
O semblante de Robert   estava sereno, e pareceu  momento propício para estabelecer uma conversa sobre família.
— Nunca me falaste de teu pai.
— Não o conheci. Minha mãe diz que ele faleceu quando eu tinha poucos meses. Mas nunca me levou para ver o túmulo dele.  Vejo em tudo isso um grande mistério. A mãe  confidenciou que há muitos anos, esteve no cemitério  e sentiu uma força que vinha das entranhas da terra, tentando puxá-la para dentro da tumba. Foi a última vez que visitou o finado. Faz tanto tempo! Não saberia mais localizar... “Não tem um epitáfio, uma lousa, alguma coisa que identifique o morto?” Perguntara Robert   à sua mãe. Mas dona Leide fugiu pela tangente. ‘Talvez nem mais uma cruz!’ respondeu ela. ‘E o nome dele, insistiu?’ Insistiu Robert. ‘Profeta era seu nome. Chame-o de profeta ou de finado. Pai ausente, mesmo estando vivo, é como se estivesse morto.’  E o filho se calou.
Seu colega deve ter tomado alguma postura incompatível com os desejos de dona Leide, por isso ela não ousava,  sequer pronunciar o nome dele do pai de seu filho.  E, depois  da conversar sobre uma força estranha que tentava sugar a mãe para as entranhas da terra, Robert, desde pequeno,    passou a imaginar o  cemitério como sendo morada de fantasmas.
—Procuro meu pai entre os vivos. Se ele for morto, prefiro não encontrá-lo — disse finalmente ele.
Ravenala acenou, afirmativamente, com a cabeça. Ela também não queria contato com os mortos.
— Tens esperança de encontrar teu pai, ainda vivo?
— Não me canso de procurá-lo. Minha mãe nunca soube que o procuro. Acho que o esconde de mim, ou me esconde dele, para castigar o velho, ou mesmo apagar a história dela, que também é minha e de meu pai.
***
Adalberto Lima, "Estrela que o vento sorpou"
Imagem: Internet








Adalberto Lima






Enviado por Adalberto Lima em 13/05/2017
Reeditado em 13/05/2017

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