Pois é...
Ubiratan Iorio, economista
Jornal do Brasil, 15/10/2007
Pois é. Está difícil viver no Brasil. Muito difícil. E a raiz de nossa triste situação é a podridão moral que se espalha por toda a sociedade, dos humildes aos coroados, dos bacharéis aos iletrados, dos goleiros aos avançados, dos mansos aos enfezados e que se alastra pela economia e a política, contaminando-as irremediavelmente. Há indícios de alguma percepção da infecção, mas não há sinais claros de que as pessoas lúcidas e de bem estejam prontas para uma ação moralizadora.
Não me reporto apenas ao governo atual, embora, inquestionavelmente, ele seja co-responsável pela situação, mas à sociedade, aos hábitos, usos, costumes e instituições, de que o governo de Lula e seus companheiros e aliados sedentos por cargos é apenas um dos elementos.
Que mundo é este em que, para vencer na vida, basta a uma mulher ter um caso com um político, artista ou esportista famoso, deixando-se engravidar, e pronto: será capa de revistas de nudez, terá independência financeira e, muito provavelmente, um programa para apresentar na TV? Será que quem compra revistas desse tipo, ou assiste a programas do gênero, sabe que está contribuindo para a derrocada da ética do trabalho? Pois é.
Que droga de sociedade é esta, em que as pessoas, quando saem de casa, o fazem com medo de serem vítimas de alguma violência? E em que, se forem da chamada classe média, ainda serão responsabilizadas - por ONGs, sociólogos e magistrados engajados - pela brutalidade de que são vítimas? Será que os defensores de "direitos" de bandidos sabem que uma das causas do crescimento do crime é justamente a sua postura? Pois é.
Que país lamentável é este, em que o próprio presidente, em mais uma sandice das que comete diariamente, afirma que o choque de gestão de que o Estado carece será feito quando contratar mais gente? Será que a ministra da Casa Civil, quando afirma ser um "delírio tupiniquim" pretender que os cargos públicos sejam ocupados por pessoas competentes e de moral reta, sabe que está passando publicamente recibo de sua própria incompetência, já que seu cargo corresponde ao de uma gerente do governo? Pois é.
Que terra infeliz é esta, em que os políticos de oposição, via de regra, só fazem realmente oposição quando lhes convém; em que a opção do eleitor é entre esquerda e esquerda, pois a direita não dá as caras; e em que o presidente do Senado apega-se ao cargo como um carrapato ao cavalo? Será que os políticos que assim agem - e há motivos para crermos serem a maioria - sabem o mal que sua atitude causa ao país? Pois é.
Que dúvida descabida é esta, em que se argui se os mandatos pertencem aos políticos ou aos partidos, quando são de propriedade do povo? Será que os eleitores percebem que, ao não lutarem pelo que é seu, estão desfigurando a democracia? Pois é.
Que sociedade deteriorada é esta, em que aquela expositora de um seminário sobre ética em uma universidade pública afirma, com ares doutorais, que há um sistema ético para cada situação específica? Será que ela sabe que o relativismo moral e sua teoria do "supermercado ético" justificam qualquer erro, vício, delito ou mesmo crime grave? Pois é.
Que ambiente estragado é este em que, quando alguém manifesta indignação contra o estado de coisas que prevalece em Brasília, é incontinenti tachado de "raivoso"? Será que os que assim julgam sabem que estão cavando a própria sepultura, ao aceitarem, por cegueira partidária, burrice ou pura covardia, o que não pode nem deve ser aceito? Pois é.
Enfim, que triste Brasil é este, em que, no Dia do Mestre, que hoje se deveria comemorar com alegria, respeito e reconhecimento, podemos seguramente perguntar: Alegria? Respeito? Reconhecimento? Pois é...
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