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Artigos-->O PARTO DO HOMEM -- 07/03/2003 - 00:01 (Rosane Volpatto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PARTO DO HOMEM



"O pai não é tão somente um genitor implicado na reprodução, o pai dá a luz de diversas maneiras..."B. This.

Os Tupinambás defendiam a idéia de que o homem tinha um papel de excepcional importância na geração dos filhos.

Os genitores designavam-se com dois nomes especiais:

"Xeraicig"- mãe de seus filhos (falando o homem);

"xemembira rúba" - pai de meus filhos (falando a mulher).

Tais designativos visavam distinguir os parentes por afinidades dos genitores.



Segundo Gabriel Soares, o filho saía do "lombo dos pais" e as mães "não põem de sua parte que terem guardado a semente no ventre, onde cria a criança".

Este informação se repete quando Anchieta fala:

"porque tem para si o parentesco verdadeiro vem da parte dos pais que são os agentes; e que as mães não são mais que uns sacos, em respeito aos pais, em que se criam as crianças".

Conclui-se, portanto, que os Tupinambás tinham a convicção "que o principal fator de geração é o pai e não a mãe".



Esta distinção é fundamental e marca a genealogia Tupinambá, pois estabelece o parentesco consangüíneo através da linha paterna. Os homens contavam sua descendência a partir dos avós. Chamavam-nos "Tamoin", compreendendo na designação todos os ancestrais, até o último avô conhecido. As mulheres, do mesmo modo, consideravam a avó como tronco e designavam-a de "ariy", quer fosse avó paterna ou materna.





Estas concepções se refletiam em todos os setores sociais da tribo, mas em especial nos ritos de nascimento, em especial a couvade, assunto que já despertou várias tentativas de interpretação.



A "COUVADE" é uma instituição que foi transmitida aos Tupinambás pelo grande Caraíba. Todos os ritos que deveriam ser observados na época do nascimento de uma criança indígena foram ensinados por este personagem mítico. A inobservância de qualquer parte do ritual expunha o recém-nascido, assim como seu pai e, posteriormente, a comunidade, a certos riscos.



A mulher indígena grávida, era conhecida como "purabore", segundo Evrex. Durante o período de gravidez já imposto ao homem algumas imposições comportamentais tais como: não poder caçar fêmeas ou pescar. E, a partir do instante da confirmação da gravidez de sua companheira, também, não lhes eram permitidos manter contatos sexuais.







Competia ao pai, no dia do parto, sentar-se ao chão e dizer: "chemebuira pakuritim" (eu vou parir). E, após receber a criança em seus braços outras tarefas lhe eram atribuídas como: cortar com o uso dos dentes o cordão umbilical, amarrá-lo e esmagar com o polegar o nariz do filho. Uma outra obrigação, após receber seu filhos devidamente limpo pela parteira, era pintar seu corpo de preto e vermelho e deitá-lo em seguida, em uma rede de algodão.



O pai também fazia para o recém-nascido uma "itamongaué", uma oferenda de bom presságio, que continha, unhas de onça e garras de algum pássaro do porte de uma águia. O objetivo de tal cerimonial era garantir o sucesso futuro de seu filho nas caçadas e pescarias.



De acordo com o costume e as convicções tribais, o homem corria sérios ricos após o parto, pois a criança saía do "lombo do pai", que deveria então, observar um período de resguardo. Este período durava até a queda do umbigo do recém-nascido, em torno de 8 dias. Algumas fontes indicam que o jejum do pai neste período é completo. Já outras informa que se alimentava com alguma espécie de farinha e bebia somente água. Nestes dias, tomava o lugar da parturiente, descansava em sua rede, recebendo visitas de amigos e parentes.

                         



Após a queda do umbigo, o pai abandonava o jejum e iniciava-se cerimônias de excepcional importância para o filho. Um pequeno arco e flechas era atado em um dos pontos da rede. No outro amarrava-se um molho de ervas. Estes representavam os contrários que o menino deveria matar e comer ritualmente no futuro. Depois disto, o pai beijava risonho a face do filho, dizendo: "Meu filho, quando cresceres serás destro nas armas, forte, valente e belicoso para te vingares de teus inimigos". O arco e a flecha eram um "sinal e grito de guerra ou vingança contra os seus inimigos".



Quando secava o cordão umbilical, o pai deveria cortá-lo em pequenos pedaços e os amarrar à testa da criança, em número igual ao das estacas da casa, a fim de que se torne avó e mantenha uma casa.



Observados todos estes ritos, tinha início as "grandes cauinagens", em que a tribo consumava a adoção do novo membro.



Karl von Steinen assevera que "entre os tupis existiu também o costume do pai adotar novo nome após o nascimento de cada novo filho".





Analisando os dados propostos, conclui-se que os Tupinambás consideravam muito íntimas as relações existentes entre pai e filho. Os laços criados pelo secionamento do cordão umbilical reforçavam, pois as ligações mágicas que existiam entre eles. Eram tão profundos tais laços, que justificavam o comportamento de parentes do pai, quando, dependendo de determinadas condições precisava-se ser substituído. Representava o contato entre dois seres que durante alguns dias ficavam em estreita dependência recíproca.

                 

Segundo as prescrições da couvade qualquer coisa que acontecesse com o pai ou seu substituto, durante este cerimonial, iria se refletir no bem estar do recém-nascido. "Este raciocínio repousa em um princípio de magia contagiante." Tudo ligava uma pessoa a outra se conservaria mesmo após se separarem. Agindo sobre uma das partes de um todo, a outra seria atingida com a ação. Portanto, redobrados cuidados se faziam necessários.



O estado do pai também era muito importante. Os guerreiros que não tivessem aprisionado pelo menos um inimigo e o sacrificado eram conhecidos como "Manén". Estes homens não tinham, portanto, passado pelos ritos de iniciação e, portanto, eram considerados inaptos para resistir à provação da couvade em virtude da sua imaturidade. Se tal ato fosse permitido, os filhos sofreriam as conseqüências da incapacidade paterna, deixando de possuir as qualidades ideais de um Tupinambá. Aqui evidencia-se um fato importante: o recém-nascido deveria adquirir atributos pré-estabelecidos pela comunidade e para tanto, o pai, para transmitir tais virtudes, tinha que possuir um certo "status".





A conexão que existia entre um e o outro, na couvade, "era de um indivíduo reconhecidamente ligado ao recém-nascido por laços íntimos, capaz de suportar com estoicismo e com suficiências biológicas, os sacrifícios impostos pelo comportamento instituído". A desobediência de qualquer regra, neutralizaria os efeitos normais dos ritos de nascimento. O filho, ficaria deste modo, exposto as más qualidades do pai (ou substituto) e não as que o grupo almejava inculcar-lhe.



Um outro problema era a preparação do recém-nascido, visando o estabelecimento do equilíbrio do sistema de relações sociais. Dependendo, o novo ser poderia a vir a se constituir uma ameaça à comunidade, e por este motivo deveria ser eliminado.



A instituição da couvade, também se constituía um reconhecimento de paternidade. Este problema poderia ocorrer, quando a mãe tivesse mantido relações com mais de um homem, após o reconhecimento de sua gravidez. Estas relações, explica Anchieta, "podiam estabelecer-se em regime de matrimônio legal: quando uma mulher grávida, divorciada ou viúva, contraia novas núpcias." Poderia ocorrer também, que a gravidez fosse fruto de alguma aventura e diante da impossibilidade de reconhecer-se o verdadeiro pai da criança, os Tupinambás o consideravam "fruto de duas sementes" ou Marabá. Neste caso, os ritos de nascimento jamais se processariam pelas vias normais.

Este procedimento evidencia o alto valor que tinha o reconhecimento da paternidade e sua alienação aos ritos de nascimento.



Os Marabás ao nascerem eram enterrados vivos. Para enfatizar a importância de tal costume, no livro "A Organização Social dos Tupinambás" de Florestan Fernandes, há referências a um episódio, onde Anchieta, apiedando-se de um Marabá, desenterrou-o, logo após o nascimento. Mas ele era proibido de ir à guerra, pois carregava consigo todo tipo de desgraças e infortúnios. Não era aceito para comer junto aos outros e não lhe forneciam alimento. O Marabá "tornava-se um intocável, em virtude dos perigos que representava".



A couvade se revestia também de importâncias como forma de consolidação dos laços de parentescos. Se o pai estivesse ausente, deveria ser substituído pelo irmão, primo paralelo ou parente mais próximo. Se o marido não se encontrasse mais no reino dos vivos, caberia a responsabilidade de sua representação àquele que estivesse preenchendo seu lugar. Portanto, estes ritos tinham como finalidade os liames que prendiam dois grupos afins.



Os dados até agora aferidos nos dão uma visão da amplitude da regulamentação e controle da vida sexual feminina entre os Tupinambás. As jovens índias solteiras, que escolhiam livremente seus parceiros, sem seguir a orientação e os preceitos da comunidade, ficavam conhecidas como dissolutas ou "Souragi". As mulheres casadas, que continuavam a manter relações sexuais com seus maridos, após o reconhecimento de sua gravidez, eram consideradas impudicas. Mas a punição maior, era para a mulher grávida e casada que mantivesse contato íntimo com outro homem, que não fosse seu marido. Esta era repudiada e só lhe restava um único caminho: a prostituição.



A vigilância exercida pelas mães e parentes na conduta sexual das mulheres índias e os cuidados que elas deveriam tomar, culminava no conservadorismo de padrões costumeiros de comportamentos. É extremamente evidente aqui o sistema patriarcal, visto e revisto no tratamento desigual do homem e da mulher no ato da concepção. Atribuíam ao homem extrema relevância, enquanto que a mulher era um mero detalhe, "um saco", usando as palavras de Anchieta, que abrigava e nutria o feto. Isto acentuava a sua descendência extremamente engajada à linha paterna, através dais quais, os Tupinambás, construíram suas genealogias.



Era por intermédio do pai e seu sucesso nos ritos de nascimento, que a comunidade garantiria sua segurança contra forças sobrenaturais maléficas, que podiam atuar através do recém-nascido. O maior interesse era comunicar a este novo ser as qualidades e poderes de uma personalidade idealizada, definida pela mitologia tribal e ofertadas através de cerimoniais.



Quando o recém-nascido era do sexo feminino, as tarefas realizadas pelo pai, caberiam ao irmão da mãe.



OS PAIS HOJE...



Observações psicoanalíticas comprovam nos dias de hoje, que o homem ao conviver com a gravidez de uma mulher que ame profundamente, também engravida. Seria como se intensificasse uma comunicação de inconscientes entre os dois, talvez algum tipo de processo simbiótico aconteça , que une pensamentos e fantasias em torno da criança que está para nascer. Este comportamento também é verificado em algumas espécies de animais, onde a conduta do macho revela um vínculo libidinoso intenso com a fêmea grávida e que perdura até o nascimento dos filhotes. Entre os pássaros este vínculo só acaba depois do crescimento e afastamento de seus bebês-pássaros.

                     



ROSANE VOLPATTO
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