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Artigos-->aniversário de setenta anos -- 07/03/2003 - 21:29 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando do aniversário de setenta anos da Ilda, a família toda, tios, sobrinhos e netos, já no segundo dia de festa, no domingo, reunida na sala de estar, resolveram repassar o álbum da família. No álbum havia uma fotografia considerada histórica. Era a de Ilda com os pais e irmãos. Ninguém discordava da importância, da preciosidade daquela fotografia tirada por volta de 1939. A família reunida e o vestuário da época encantavam a todos. Ali, naquela pequena sala, só se ouvia: “Olha o vestido da Ilda!” “Olha o corte do cabelo, o laço de fita, a trança e o decote. Todos tinham olhos só para a Ilda. Menos um: o Érico. Muito critico, ele virou para o pai e indagou escandalosamente: “Pai quem é esse aqui?” O pai, sem saber o motivo daquela admiração, respondeu: ”É o seu avô quando tinha 10 anos, filho.” Érico não deixou por menos: “Doido! Ele está descalço!” Não está não, interveio Zé, o irmão de Ilda e que, naturalmente, fazia parte da histórica foto da família.

Zé é o zangão incorrigível. É de veneta o que o torna, na maioria das vezes, muito simpático e bom de prosa. Tem mania de aumentar as coisas. A origem da família não o deixa ficar por baixo. Sente-se orgulhoso do seu sobrenome só de saber que ele vem de tradicional família portuguesa. Por estas razões ele jamais admitira que alguém da família, um dia andou descalço por não ter sapatos.

Só ele mesmo! Coisa tão comum naquela época. Ainda mais que moravam na roça. Eram fotos tiradas assim de improviso, num dia de festa, no arraial.

“O seu avô não está descalço não, Érico?” — insistia Zé. “Ele está de havaiana. Arrepare a tirinha da havaiana, reparou? “Está não, tio”. Está, não está, era a discussão. Maria Helena saiu de perto.

Só o Zé conseguia enxergar a tira que não existia. No final todos tiveram que concordar com ele. Claro! Seria de extremado mau gosto alguém dizer para ele que as havaianas começaram a ser fabricadas no Brasil no início de sessenta, portanto, vinte anos depois daquela pose para fotografia. Para que causar dissabores por causa de uma tira de sandália?

Mais tarde, estando a sós com o Zé, o Ildeu voltou ao assunto da sandália. Ildeu, ao contrário do irmão Zé, é muito concordado. Os sobrinhos o chamam de Tidêdeu. Uma graça! Dedêu contou para o irmão o seguinte: que lá, em Nova Aurora, Goiás, tinha um senhor por nome de Jerônimo que nunca andou calçado. Com raridade punha uma sandália havaiana, apenas para sair do banho e ir direto para a cama. Jerônimo Pires de Araújo era seu nome todo. Tinha setenta anos de idade. Era político influente na cidade, irmão do Prefeito, etc. e etc. Em meados de 1991, Jerônimo fora convidado pelo então presidente da república, Fernando Collor de Melo, para subir a rampa do Palácio do Planalto acompanhado dele e dos ministros, embaixadores e de outros convidados que faziam parte do cerimonial. Subir a rampa do planalto tinha, salvo engano, um sentido populista. Jerônimo não teve dúvidas. Vestiu o terno branco e nada calçou. Com a netinha e outros familiares rumou para Brasília e lá realizou a proeza de subir a rampa de pés descalços com o presidente Collor.

O Zé quis duvidar da história. Dêdeu disse-lhe que viu a foto e leu o artigo que registrava a façanha de Jerônimo. “Pois eu digo que, no mínimo, ele estava de havaiana” — rezingava Zé. Por fim Dêdeu conciliou: “Eu falo é sério. Eu vi e conheci pessoalmente o senhor Jerônimo. Até perguntei-lhe se em toda a sua vida de pés descalços não sofrera nenhum acidente. Sabe o que ele me respondeu? Que certa vez havia pisado em algo pontiagudo que atravessara o couro do pé. Disse-me que ficou satisfeito de saber que era uma taxinha e não um espinho de mato qualquer. Olha só que sabedoria, Zé! Ele apenas queria dizer que estava afinado com a natureza.

Mas que teimosia mais boba essa do Zé. Se eu — o narrador—, disser (e sei que vou dizer; é só questão de oportunidade) que o presidente FHC, o Lula, a Gisele Bundchen e muito mais gente famosa calçam sandálias havaianas ele não vai acreditar. Na idéia dele essa chinela foi feita para pé-rapado. Mas está na revista, e ela, a ele eu quero mostrar para provar que agora a havaiana tornou-se calçado fashion. Se vende até na Europa. O Zé vai dizer que a matéria é paga, eu sei.

Matéria paga, ou não em complemento a ela havia uma charada. Numa página reproduziram fotografias de meio corpo dos personagens que mencionei e noutra os pés seminus calçados apenas por uma havaiana. A charada consistia em associar o pé ao dono. Por que não resolvê-la? Conciliar os pés da Gisela e de outras foi fácil. Mas discernir qual pé era o do Lula, o do sem-terra, ou o do presidente foi difícil. Errei duas vezes seguida. A primeira quando constatei que ao Presidente, associei o pé do sem-terra e a segunda quando ao Lula, associei o pé do Presidente. Descobri o erro porque o pé que sobrara para o sem-terra era o mais branquinho de todos e era justamente o do Lula.

Previsível esse meu erro. O Lula está convencido de que com a imagem de peão do trecho ou de torneiro mecânico ele nunca chegará a presidente. É provável que ele esteja a fazer, com manicuro, as unhas das mãos e dos pés.

Agora, a charada ficaria mais simples se à galeria de pés juntasse o pé do Zé. Que usa sandália havaiana até as duas correias arrebentarem. Tem o pé rachado, difícil de ser confundido com o do Presidente, que usa sandália para pisar a areia da praia; com o pé do Lula que usa sandália para sair da sauna; e dificílimo de ser confundido com o do sem-terra, porque o dele, na lida, pisa a sua posse cheia de espinho que o suor lhe legou e a Constituição lhe assegurou, para depois, só depois, se sobrar, do que apurou, comprar o seu par de sapatos. Por essas razões o Zé não admitia que o irmão era um pé descalço. Bobagem dele! Ele apenas não havia dado por si, que naquele tempo, 1939, pés descalços eram costume. Não calçar os sapatos para tirar o retrato da família fora apenas uma displicência de seu irmão, o meu pai.

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