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Contos-->As Tramas -- 30/03/2000 - 11:22 (Alexandre A Mascarenhas) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os dois passam algum tempo juntos quando ele chega em casa, antes do começo da noite. Normalmente preferem a varanda de cima,que não é tão ampla quanto as outras mas é a que tem as cornijas e o peitoril mais requintados. Nos encontros que realizam ali é ela que, na maioria das vezes, toma as iniciativas.

Da loucura em que se encontram dificilmente notariam o meu vulto percorrendo as sombras do jardim. Não que passe pela minha cabeça a idéia de saborear os prazeres que se amontoam entre Fred e Cecília, embora o vasto gozo que paira através das figueiras. O que se percebe a cada final de tarde é semelhante ao que já ocorreu antes: ele se mantém relaxado, brota-lhe pelo corpo uma leve ondulação - as mãos sobem e descem e somem -; e ela salta de um lado para o outro enquanto narra histórias de festas e de reviravoltas.

Quando Cecília me ofereceu para ficar hospedada em sua casa durante a rápida estadia de uma ou duas semanas em Brasília, a minha primeira reação foi aceitar; logo depois, eu entendi que deveria ter sido um daqueles convites que se faz para que sejam recusados. Enfim, não voltamos a nos falar - é raro me pegar em casa e tornou-se impossível nos dias que precederam a viagem.

O quarto que me esperava pode-se descrever em incontáveis versões sem que se repita uma única vez a mesma disposição dos objetos que fazem parte de um dos quartos que me esperavam. O que posso dizer é que, súbito, o quarto alterava em mim algo que só fui compreender mais tarde. Numa das paredes estava a máscara coberta por sementes: as mais claras misturavam-se entre as turvejantes e sem brilho.

A atenção que me dirigiam, apesar das pompas e dos trejeitos, era calculada e procurava dissimular o real anseio de me ter a muitas horas; a muitas horas. O resto da casa eu passei a freqüentar aos poucos tendo sempre o cuidado de trocar um recinto por outro quando Fred ou Cecília me faziam supor a chegada de um dos dois - ou de ambos.

Meus anfitriões escassamente me viam sem que desconfiassem, entretanto, que eu nada fazia senão vigiá-los; tal como na varanda, falavam de arabescos, de fábulas, de adágios, passando de um ponto a outro do quintal.

Quem caminha por Brasília não vê outras pessoas penas avenidas; pelos terrenos baldios; sobre as pontes que ligam entre si as faces de Brasília: uma cidade de parcos movimentossons.

Havia algumas peças que me forçavam milhares de ensaios. E mesmo que eu quisesse evitar elas escorregavam das minhas mãos e esfacelavam-se em seguida, sem que eu pudesse encaixá-las enquanto existiam.

Logo nas primeiras horas das manhãs, a malha branca desloca-se pelo céu; e passa por estados que se transfiguram; ninguém sabe dizer, com certeza, quem chega antes: os que passam olhando em frente falam de veleiros; e os que mudam de opinião preferem descrever bandos de garças transformadas em malhas brancas.

A suíte de casal fica a poucos metros no mesmo corredor - após o cabide fincado na parede com um chapéu, o sobretudo e o cheiro de mofo que o circunda.

Passados os primeiros dias - as noites eram dilatadas e tensas -, Cecília e Fred davam a impressão de que a minha presença não os perturbava mais, pelo menos não na mesma intensidade. Nos caminhos invisíveis os traços se multiplicavam para todos os lados. Os corpos delgados e negros - quase levitavam antes de se encontrarem -: olhares saltados, pelos hirsutos, evoluções equilibristas de formas e desejos circulares.

Eu agia com naturalidade e continuava aguardando a hora de partir. Despreocupada com os lances finais para que se completassem os meus desígnios, eu acompanhava cada um dos acontecimentos que concluíam um ciclo e preparavam o próximo - mesmo sem a minha participação direta.

Cecília me pediu, durante o café, que eu não programasse nada para aquela noite; ela e Fred foram juntos ao mercado e, na volta, meteram-se na cozinha por longas horas.

Tudo era preparado a fogo lento. A faca, os legumes, a sutileza, as frutas atentamente lavadas e frescas; os momentos em que se tocavam e se excitavam porque eram toques imprevistos e, finalmente, o aroma que se delineava aos poucos: o sabor e os segredos que um contava para o outro.

O jantar não apresentou a mais leve imperfeição. Os dois trocavam - rapidamente - sorrisos que passavam dos lábios dela para os dele e vice-versa.

O que ainda me faltava descobrir sobre Fred, Cecília contava-me docilmente.
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