Estava bem no início dessa história de intercàmbio entre brasileiros e americanos, lá pelos anos sessenta e Tia Marina recebeu um em sua casa.Ted chegou e foi a sensação do momento.
Levamos Ted pra lá e pra cá, mostrando-lhe as peculiaridades do mundo tupiniquim. Mamãe achou linda a idéia, assim teríamos a oportunidade de praticar um pouco de inglês. Mas nós não nos esforçamos muito, preferimos ensinar português ao gringo.
Fomos com ele a Ubatuba e, no momento de sair para a praia, surpresa. Ted vestia um colorido e antiquado short, de pernas largas. Só tirou a camisa estampada de grandes flores para entrar na água. E foi de tênis, nada de chinelinho como nós. Ficamos envergonhados em desfilar com tão rara peça, mas ele era estrangeiro, tinha lá suas manias. Ainda bem que não tirou a camisa para expor-se ao sol. Assim mesmo ficou vermelho como um camarão. Imaginem se tivesse ido pela nossa cabeça...
Outros americanos tinham vindo na mesma situação que Ted e achamos uma boa idéia fazer uma festa para que todos se encontrassem. Cada americano chegou acompanhado de uns cinco brasileiros, de modo que a reunião acabou sendo muito mais nossa que deles. E os pobrezinhos ficaram atordoados no meio das nossas molecagens.
Inventamos muitas coisas e a melhor delas foi a história de que sabíamos conversar em Latim. Como eles não conheciam nada dessa língua morta e certamente a achavam menos importante do que o inglês, nós descobrimos uma superioridade. Por que não aproveitá-la?
Desconfiados, eles queriam ver a façanha. Ninguém se fez de rogado e começamos logo o diálogo. Um olhava para o outro e dizia:
_ Dominus vobiscum! com ares de cumprimento.
O outro, fazendo reverência, respondia:
_ Et cum spiritu tuo!
Os americanos só olhando, admirados. E nós, com variadas entonações:
_ Ave Maria.
_ Gratia plena.
_ Dominus tecum.
_ Ora pro nobis.
_ Pecatoribus.
_ Agnus Dei.
_ Deo gratias.
Se não déssemos tanta risada, poderíamos continuar ainda um bom tempo com o besteirólibus. Conseguimos impressionar os americanos que passaram a nos olhar com mais respeito.
Ensinamos ao Ted que "Ave" era a saudação em Latim, e que devia estar sempre acompanhada da palavrinha Adão.
A partir daquele dia, passamos a cumprimenta-lo:
_ Ave Adão Ted!
_ Ave Adão! Ave Adão! respondia ele todo alegrinho.