Neste dia internacional da mulher, lembro-me contristado e com um pouco de vergonha das palavras atribuídas a Platão que, orgulhosamente, teria afirmado: “Dou graças aos deuses por ter nascido grego e não gentio, livre e não escravo, homem e não mulher”.



Não faltou também quem dissesse que se o mundo fosse liderado pelas mulheres, ainda estaríamos habitando cavernas, colhendo frutos silvestre e bebendo água em conchas, porquanto só aos homens pode ser atribuído o espantoso progresso que até então conhecemos.



Para os que assim pensam, só ao macho de nossa espécie cabe a glória de ter criado toda essa parafernália de instrumentos e engenhocas que tanto conforto nos proporcionam, desde a invenção da roda até a mais moderna astronave.



Afirmam ainda os machistas que nem mesmo o fogão e a vassoura, instrumentos femininos por excelência, foram sequer imaginados por nossas companheiras do belo sexo, quanto mais em se tratando do automóvel, por elas tão apreciado, embora não o consigam dirigir tão bem quanto seus pares do sexo oposto, segundo opinião deles próprios.



Afora tais exageros, parece certo que as mulheres teriam feito diferente, caso elas tivessem tido a oportunidade, e uma pergunta se impõe naturalmente: quem garante que elas não o teriam realizado melhor? Afinal é discutível que esse extraordinário progresso, conseguido à custa de muita violência e agressões à Natureza, é realmente a melhor opção para a humanidade, em termos de qualidade de vida.



Por outro lado, é evidente que os homens não realizaram tudo isso sozinhos, enquanto as mulheres dormiam, senão que o fizeram auxiliados por elas, por cauda delas e quiçá inspirados também por elas.



Para Friedrich Nietzche, nossa civilização foi na verdade forjada por sacerdotes, os quais conhecem, na linguagem do filósofo, apenas um perigo: a ciência, que tem o condão de igualar a Deus o ser humano, extinguindo-se deuses e sacerdotes à medida que despontam os cientistas.



Analisando o mito religioso, isso parece estar correto para explicar o surgimento do machismo, de vez que o texto bíblico, em sua linguagem simbólica, testifica que a ciência provém da mulher, porquanto através dela o casal humano adquiriu o conhecimento, passando, desde então, a distinguir o falso do verdadeiro.



Por esta razão tinha de ser ela subjugada, a fim de prevalecer nas grandes religiões, como o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo, o conceito de um deus machista capaz de sedimentar a liderança masculina e relegar à mulher um papel subalterno, em que não tivesse voz nem vez.



Alguém pode discordar da opinião que acabo de esboçar, mas é preciso entender que o assunto merece uma melhor reflexão, sendo o objetivo do presente artigo apenas o de prestar uma homenagem às nossas bravas companheiras de jornada, sem as quais nada seríamos, se é que sem a presença delas nos fora possível existirmos e vivermos para estarmos dizendo alguma coisa sobre nós mesmos.



A todas as mulheres, que ora me lêem, através deste artigo, deixo um abraço e arrisco um pedido de desculpas, em nome dos homens, pela praga do machismo de que somos também vítimas, embora nem por isso menos responsáveis.