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Cronicas-->Dei carona ao ex-ministro -- 12/11/2007 - 01:00 (Beatriz Cruz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEI CARONA AO EX-MINISTRO


Certa manhã, antes de ir para o colégio onde trabalhava, logo que dobrei a esquina, vi o ex-ministro da Fazenda de terno, gravata e pastinha na mão esperando um táxi. Não resisti. Parei o carro e chamei-o: João Sayad? Surpreso, ele abaixou-se para ver quem era. Não me reconheceu.
Ia explicar de onde o conhecia, mas os carros que vinham atrás não paravam de buzinar. Abri a porta e ofereci carona. Ele entrou. Logo fiquei sabendo que nos dirigíamos para direções opostas. Não faz mal, eu disse, posso deixá-lo mais adiante.
Conversamos durante o curto trajeto. Falei que tínhamos estudado na mesma classe e passei a declinar os nomes de colegas e professores. E a conversa foi se animando. Das meninas mais bonitas ele se recordava com clareza. Dos alunos relapsos também. Contei que foi ele quem me emprestou cadernos quando cheguei ao Rio Branco, na metade do ano. A primeira festa a que compareci com os novos colegas foi em sua casa. Falamos do professor de Português que nos fazia ler as redações em voz alta. Do professor de História, que disfarçadamente jogava charme para as alunas. E o de Latim, então, que nos propunha versões quilométricas...
Não houve tempo para alongarmos as lembranças, eu tinha hora certa para chegar à minha classe. Ele certamente não batia ponto, ia para seu escritório. Mas ficou com vontade de conversar mais e de rever os colegas... Pediu-me que convocasse a classe para uma reunião assim que possível.
Deixei-o na calçada da avenida onde continuaria a esperar um táxi e segui meu rumo pensando nos tempos do colégio. Daquele colégio onde estive por pouco tempo mas aprendi muito. Principalmente a frequentar a biblioteca. Dela podíamos retirar livros de Jorge Amado, Sartre, Simone de Beauvoir sem sentimento de culpa ou vigilància de adultos. Tudo o que estava em voga na época e que os jovens ansiavam por ler. Na hora do recreio a sala de leitura ficava lotada.
Lembrei-me também da minha alegria ao entrar numa escola mista depois de anos em colégio de freiras. Muito melhor, sem dúvida, nem uniforme tinha que usar. Durante o recreio podíamos tomar cafezinho! Na saída a paquera corria solta, rapazes acompanhavam moças até o ponto do ónibus; um ou outro oferecia carona, exibindo-se em reluzentes fusquinhas...
Mais tarde telefonei para uma amiga e contei a novidade. Rimos muito. Principalmente da distração do nosso ex-colega ao aceitar carona de uma desconhecida. Afinal, ele era um homem importante.
Assim como me fez bem aquela inesperada conversa, deve ter sido agradável para ele recordar-se dos tempos em que era "apenas" o primeiro da classe. Conhecido somente de uma pequena roda juvenil, limitada a poucos bairros da capital.
Depois foi abrindo caminhos, ocupando cargos de peso. E segue em evidência até os dias de hoje. É o atual secretário da Cultura do Estado de São Paulo.
Creio que João Sayad deve ter um bom anjo da guarda. Apesar de sua brilhante inteligência, naquele dia não pensou em uma coisa.

E se eu fosse uma sequestradora?




Beatriz Cruz























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