Quando a mãe de Valdinha morreu, esta ainda não tinha completado vinte anos. O pai, um garanhão italiano, não contou tempo e juntou-se, aliás, casou-se, logo em seguida, com uma bella ragazza. A nova mulher não tinha mais do que vinte e cinco anos e o nome, pelo que pude apurar, era Antónia.
Valdinha não queria chamá-la de Antónia porque achava que não tinha intimidade suficiente para tal. Muito menos de Dona Antónia, já que a diferença de idade não autorizava lhe dar um pronome que a envelhecia. Chamar de Mãe, nem pensar. Ninguém, por melhor que fosse, substituiria a sua. Madrasta, ela nunca viu alguém chamar assim: "Minha madrasta me passe o açúcar". Ou: "Madrasta, convide o pai e vamos almoçar fora".
Qual a solução encontrada por Valdinha? Passou a chamá-la "Olha aqui". Era Olha aqui pra cá e Olha aqui pra lá. Para esquecer o nome verdadeiro da madrasta não foi preciso muito tempo.
Olha aqui se tornou sua amiga e confidente. E juntaram tudo o que tinham. Só faltava juntar o espaço que separava seu nome e isto foi mais fácil ainda. Ela passou a ser somente "Olhaqui".
Soube há pouco tempo que Olhaqui nos deixou, foi para o céu. Fui então dar os pêsames à minha amiga Valdinha e ela me contou que Olhaqui está enterrada no cemitério do Morro da Glória. Disse que Olhaqui foi juntar-se ao seu pai e sua mãe.
E completou solene: "Finalmente alguém me lembrou que Olhaqui teve um nome, mas para mim ela não vai deixar de ser a minha Olhaqui".