Quero escrever-te em terceira dimensão toda a minha essência, a minha mais completa inspiração, a totalidade da minha imaginação, que a altura das palavras seja a estatura de seus significados mais profundos, que a largura tenha a amplitude dos mais perfeitos e diversos sinônimos e que seu comprimento tenha a extensão da alma pura e cristalina da primeira palavra pronunciada por um ser humano.
Descrever meus argumentos em toda plenitude de sua beleza imaterial, a pigmentação das palavras em seus tons furta-cor,matizes perdidas no vermelho-sangue do interior das minhas veias, que o amarelo cor-de-raios-de-sol-em-final-de-tarde-de-outono que escorre pelos cantos das minhas paredes vá ornamentar o espelho de seus olhos ao ler meus pensamentos.
A justa forma do sabor das palavras, espremê-las até quase matá-las para retirar seu caldo, um sumo quase ácido, acariciar a sua língua com som que elas fazem, só para sentir meu mel derretendo a mais justa tradução, já que eu não posso mais chorar, quero que você me chore.
Minhas mãos são as asas do anjo que mora dentro de mim, me fazem voar junto das nuvens alvas que uso como folhas para me escrever, mandar recados, vagando por luas desertas querendo que você me veja nos teus olhos.
Quero que ouça o som que sussurra em sua orelha e grita aos alto-falantes, pichando o muro dos ouvidos com doces sentidos bárbaros ou civilizados, gostaria de descrever-te a primeira vez que ouvi o silêncio.
Mas para isso as palavras precisam ser invisíveis e as palavras invisíveis já não serão mais minhas, serão tuas.
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