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Contos-->Exéquias do Coronel -- 07/12/2017 - 02:11 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Campo Grande jamais se esquecerá do coronel — dissera o padre, durante as exéquias — nem o tempo apagará sua memória. Sua humana alma sempre apartada da corrupção, seja na glória eterna coroada. Ele fez jus ao nome recebido: Justino, justo e generoso.
Apinajé chorou.
 E muita gente fungava, até homem chorava e tossia escorrendo água nos buracos das ventas.  Sinhá Corina mandou servir chá de jasmim e cravo-de-defunto, e logo, correu o boato que o finado era santo. Mas... Na missa de corpo presente, o padre não comentou o milagre. O povo é que dizia, que doente ficou curado de mal respiratório, resfriado, bronquite, reumatismo, e depressão, depois de tomar o chá no velório de  Batista Generoso.
 
Mesmo quando acaba o perfume, o zeloso frasco ainda guarda 
por muito tempo o cheiro.
 
A viúva vestiu luto de sete dias e  bebeu chá-de-jasmim, para controlar o baticum do coração, doído de paixão pelo marido. Orava pela salvação da alma dele, visitando todo mês o  corpo santificado de Justino, dado  aos vermes no cemitério de Sete Passagens. 
Apinajé  lastimava:  ‘Coronel Generoso era bom demais da conta.’ Chorava mais que a viúva, e com isso lançou por terra o mito: “Índio não chora.”
 Apinajé chorou.
 Em sua mente revivia a cena de quando atrasava o almoço dos cafuçus... A boia chegava fria... E os homens do tijupá reparavam nela o cabelo assanhado,  adornado de folha seca e sementes de mulungu. 
— Repare o cabelo dela!
— Bota maldade não, sor.  Deve ser assim que índio se enfeita.
— É não! Mulher de índio tem muitos maridos. Qualquer índia, mesmo casada, se acoita com o pajé. Tem sangue de peru naquela pintainhada de perdiz.
— Mulo não gera filho. Onofre não é pai daqueles caburés — dizia outro. 
— Deixa Onofre sonhar...
— Sonhar o quê, cabeça de vento?
— Malquerença! Botando intimidade da mulher do vaqueiro com o patrão. Ninguém nunca viu nada. 
— Essas ‘coisa’ num é feita pra ninguém ver... Repare as crias. A índia tem filho branco,  quase sarará. A mais nova é ruiva de beiço grosso. Vermelha que nem o patrão da mãe. Nariz curto... achatado. Branquela.
— Onofre é uma égua, cuidando de cria alheia...
— Nem que não seja sangue de seu sangue. Criou. Toma feição. 
João Velho pensou:  “Toma afeição. Feição é outra coisa parecida. Quem nunca ouviu dizer: Entre troncos e brenhas, ninguém sabe onde a lenha queima. A menina tem jeito e sabedoria demais para ser filha de vaqueiro.” Calou. Apagou todo pensamento que faz juízo daquilo que o olho não viu.
— Respeite o sentimento da família. O homem já morreu!
— Tô falando quando era vivo.
— Ela tem filho caburé de cabelo corrido. Que é próprio da mistura de negro com índio — interfere Xandão — Isso sinaliza que Onofre é o pai. E se não for, não nos cabe julgar.  Dizer que a índia é trabalhadeira, ninguém diz. Mas ficar de olho no caminho para ver se ela já vem trazendo a boia, todo mundo faz. Apressou-se Pai Luís que não perdia a oportunidade de cobrar mais rendimento dos enxadeiros.
— Todo mundo é muita gente... Eu nunca reparei os modo dela com o patrão. Só tenho olho pra minha enxada e a leira.
— Tá na hora de pegar no pesado.
— Nem amolei minha ferramenta, ainda.
— A gente a mola enxada e machado é na hora do descanso.
— Pai Luís tá certo. Temos que mostrar serviço — Acentuou Antônio Cardoso, enquanto se dirigia à queimada nova.
Já em pé, Gaudêncio bateu com o olho da enxada numa pedra. Raivoso.
— Apinajé! Nome besta sor. Nunca vi este nome...
— Acaso tinha visto índio antes, nessa sua vida besta de enxadeiro?
— Nem nunca!
— Ontonce. 
***
Adalberto Lima, fragmento de "Estrela que o vento soprou."
Imagem: Internet
Adalberto Lima
Enviado por Adalberto Lima em 07/12/2017
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