Tenho olhos nas mãos, frio nas espinhas, vou explodir meus corações, vestir uma nova pele( a tua), vou tacar na sua cabeça as pedras que me expelem os rins, beba o meu amargo fel, tome a bílis simpática hepática do meu fígado,sou como a pimenta, ardida, mas saborosa.
Se não posso despir meu corpo para ti, chegou à hora de dar voz a minha alma, vou suicidar os meus valores antigos e permitir a invasão bárbara do lado direito do meu cérebro e do lado esquerdo do meu peito, escorre pelos meus seios o leite de uma vaca de presépio.
O vento bate insistente na minha janela, deixo ele entrar, beijar as minhas bochechas, balançar meus cabelos pesados, fico a imaginar quantos caminhos ele percorreu, mares, bares, pares, barrancos, penhascos, abismos e outros rostos...
Na minha sala tem um piano, eu o amo, mas não sei tocá-lo, queria que ele me tocasse, incendiasse o meu corpo nessa noite que se vai, vou queimar esse quarto, vou tocar fogo na casa...
Já não sou do tamanho da minha altura, graças a minha alma que nunca foi pequena, o tempo não me aprisiona em suas horas intermináveis , dias eternos ou anos velozes, minha forma de contar o tempo é observar o quanto cresceram as arvores do meu jardim(um dia elas foram sementes na palma da minha mão), os corações partidos tornam o meu amor inteiro, a certeza da morte não limita a dúvida da minha vida.
Já tive amores vermelhos, aqueles que correram por todas as minhas veias e não me deixavam dormir, tive amores azuis que me levaram para o céu, para depois despencar, esses arrancaram a minha pele e quebraram meus ossos e tive amores brancos, pálidos, quase nulos, onde eu só eu imprimi meus sonhos, me escrevi.
Meu caminhar é triste, manco...as pessoas me chamam de chorona, porque meus olhos negros choram lágrimas de sol...