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cronicas-->Os relógios do ancião -- 19/11/2007 - 22:51 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A mulher cuidava do almoço em nosso apartamento em Fortaleza, as crianças brincavam no play ground do prédio e eu tomava uma cervejinha no botequim de seu Raimundo. Cervejinha merecida, depois de bater volante por mais de seis horas e subir com bagagem pela escada até o quarto andar.
Ora, para quem está de férias, todo dia é final de semana... palhoça, sol e mar. Restaurante para repor as energias perdidas e depois casa e berço. Era essa nossa programação toda vez que íamos a Fortaleza. Não foi assim desta vez. No outro dia, logo ao amanhecer, Corrinha disse-me. "Vá comprar pão e leite". Meti a mão nos bolsos e não encontrei um tostão.
- Estou sem dinheiro. Você tem algum aí?
- Não, não tenho!
O desjejum estava fácil de conseguir, o barzinho de seu Raimundo tinha leite e pão, poderia comprar fiado ali mesmo. Alguma outra coisa que faltasse, ficaria pra mais tarde. Deixei avançar as horas. Precisava sacar dinheiro, mas o Banco só abria às onze. Na Praça José de Alencar, um senhor de mais ou menos setenta anos, descansava num banco. Sentei-me e puxei uma prosa. Nada melhor pra passar o tempo até o banco abrir. A conversa se prolongou por mais tempo que imaginava. Olhei o relógio. Eram onze e dez. Levantei-me assustado e dei ponto de sair. Enquanto isso, aproximara-se um cidadão com idade e aparência física semelhante àquele com quem conversei na praça e que ainda permanecia ali.
- O senhor sabe onde é a LÓDE BRASILEIRA. Perguntou-me.
Antes de ouvir minha resposta ele foi se identificando.
- Sou de Vila Velha no Espírito Santo. Estou precisando de dinheiro para continuar viagem. Estou vindo de Paramaribo na Guiana, a firma que procuro me comprava os produtos que trago, mas parece que mudou de endereço...
- Que você tem pra vender? Se tiver TV de seis polegadas, tenho um comprador pra ela. Perguntei curioso.
- Não tenho TV. Um amigo meu trouxe duas pra vender aos funcionários do Banco do Brasil, se ainda não tiver vendido, arranjo uma pro senhor. Saiu apressado.
Preocupado com o avançar das horas, não acompanhei sua trajetória, de modo que, já estava saindo quando ele retornou.
- Meu amigo vendeu as TVs, mas tenho relógios importados e vendo barato. Estou sem dinheiro para seguir viagem.
Lembrei-me da cara-metade. Vou levar-lhe um relógio de presente. Ela é rigorosa com o horário de voltarmos da praia, por causa dos riscos de insolação, principalmente na delicada pele das princesinhas
- Você tem relógio pra mulher?
- O senhor está com sorte! Tenho um relógio pra mulher.
A dupla de ancião me envolveu na conversa. Um deles, o primeiro que conheci, pediu para ver mais relógios e fez uma proposta de quatrocentos mil cruzeiros em dez ómegas suíços. Numa condição: o vendedor teria que esperar até que ele fosse buscar o dinheiro em Messejana.
- Meu ónibus sai em quarenta minutos. Não posso esperar o senhor buscar o dinheiro em Messejana e voltar para me pagar os relógios.
- Pois me venda um. Pago quarenta mil, agora. Pra comprar só um, não preciso ir a Messejana, mas se o senhor me esperar um pouco, compro dez.
O pretenso comprador pagou por um relógio Cr$40.000,00 em moeda corrente, e me chamou em particular. "O homem não me espera voltar de Messejana. Ofereça Cr$ 350.000,00 em dez relógios e me aguarde... É coisa rápida, é só o tempo de tirar o dinheiro na Caixa Económica, quando eu voltar, pago quatrocentos mil nos dez relógios e você ganha Cr$50.000,00".
Convém que tudo seja examinado com cautela, para não acontecer que venhamos a pisar em campo minado, mas a usura de ganhar dinheiro fácil, falou mais alto... Em questão de poucas horas ganharia um relógio para dar à mulher e mais uns trocados... Fiz a proposta de trezentos e cinquenta mil.
- Vou aceitar sua oferta. Trabalho numa estatal. Preciso ir embora.
Fomos ao Banco, a fila estava em parafuso, então disse ao velho.
- Amigo, nosso negócio não vai dar certo. A fila está grande, não serei atendido em menos de uma hora e o senhor só dispõe de quarenta minutos até o embarque.
Ele não disse nada. Aproximou-se da bateria de caixas, conversou alguma coisa, e o caixa me mandou ficar na frente do primeiro da fila. Efetuei o saque, passei os cobres pro sujeito e recebi os relógios com bolsa e tudo. Imediatamente o velho se retirou.
Comecei a desconfiar. Pareceu que o vendedor queria se ver livre do pacote... Resolvi dar uma olhada na mercadoria e descobri que era uma boa falsificação, mas aí já era tarde demais para arrepender.

LIMA, Adalberto António de; SILVA, Francisco de Assis Lima Diassis et al. O Brasil nosso de cada dia.
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