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cronicas-->A defesa que assusta -- 20/11/2007 - 09:31 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O ESTADO DE SÃO PAULO, 16/11/2007

A defesa que assusta

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é um homem culto, mas tem dado demonstrações de possuir uma inteligência privilegiada que lhe permite aprender "de ouvido" aquilo que não aprendeu na escola. Aborda qualquer assunto que um presidente é obrigado a abordar, sem "fazer feio", diante de qualquer platéia, sabendo até como transformar em pitoresca a linguagem só sua que é consequência da falta de domínio do vernáculo.

Por isso, é assustadora a defesa que ele faz da "democracia na Venezuela", como se acreditasse realmente que democracia é a sistemática dilapidação das instituições, práticas e valores democráticos que o coronel venezuelano espera completar no próximo dia 2 de dezembro, realizando, finalmente, o sonho que não conseguiu realizar em 1992, por meio de um golpe militar. E, se Lula sabe que democracia não é isso, pode-se deduzir que ele só não tentará imitar Chávez se achar que são escassas as condições objetivas para tal no Brasil - o que não nos parece o caso do País deste momento, euforizado pela descoberta da jazida de Tupi.

O susto aumenta quando declara não ver diferença entre o projeto chavista de se perpetuar no poder e os governantes europeus que chegaram a ficar uma década ou mais no poder, uma vez que não se pode acreditar que é a desinformação que o faz equiparar as trevas à luz - "não tem nada de distinto", fulminou -, e que ele pense efetivamente que a perpetuação de Chávez no governo venezuelano é tão legítima como as sucessivas reeleições de Margareth Thatcher, na Grã-Bretanha; Helmut Kohl, na Alemanha; Felipe González, na Espanha; e François Mitterrand, na França, a quem citou. Não é crível que Lula tenha feito essa comparação com o único objetivo de defender a fidelidade à democracia do coronel golpista.

Os jornalistas que o entrevistavam objetaram que, exceto Mitterrand, os demais se elegeram e se reelegeram no marco do parlamentarismo, que também prevê a queda dos governos de turno a qualquer momento, se o Legislativo negar aos seus dirigentes o voto de confiança. A objeção - à qual Lula retrucou que "o que importa não é o regime, é o exercício do poder" - é procedente, mas a questão essencial é outra. Todos os nomes mencionados foram invariavelmente escolhidos em pleitos livres, limpos e competitivos, isto é, cujos resultados poderiam ter sido aqueles ou outros, e, no exercício do poder, preservaram a democracia. Afirmar que o mesmo se aplica ao chavismo, não podendo, como dissemos, ser rematada ignorància, só pode ser demonstração acabada da intenção de seguir o exemplo de Chávez pelo menos no que diz respeito à "prorrogação" da sua permanência no poder. Reconhecemos que Lula é inteligente demais para aspirar a poderes ditatoriais.

Mas ele não facilita a vida de quem prefere acreditar nas suas juras de que não pensa em 3º mandato. São dele estas palavras: "Eu acho que na democracia é assim: a gente submete aquilo que a gente acredita ao povo e o povo decide e a gente acata o resultado." Isso é apenas plebiscitismo, a relação direta do líder com a massa, que atropela o que a ordem democrática tem de essencial - a representação parlamentar pluripartidária. Assim é a democracia de Hugo Chávez - e quem o diz é o seu ex-ministro da Defesa general Raúl Baduel. Em abril de 2002, ele acabou com o golpe de opereta contra o chefe. Em julho deste ano, Baduel deixou o governo para denunciar como "golpe de Estado" a reforma constitucional a ser submetida a referendo popular.

Na realidade, não houve qualquer provocação para Lula falar sobre a "democracia" chavista. O que os jornalistas queriam saber é o que ele pensava sobre o incidente em que o protoditador foi repreendido pelo rei da Espanha, Juan Carlos I.

O fato, como se sabe, ocorreu na sessão de encerramento, a que o presidente brasileiro não compareceu, da Cúpula Ibero-Americana, em Santiago do Chile, no último fim de semana. A ausência talvez explique a sua reconstituição equivocada do episódio. O rei mandou Chávez calar a boca não porque ele chamou José Maria Aznar de "fascista", mas porque não parava de interromper grosseiramente os protestos do presidente José Luís Zapatero contra o insulto. Mas, se nada lhe foi perguntado sobre o regime venezuelano, por que Lula haveria de sair em sua defesa? Não é para assustar?


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