MULHER CHOCANTE
Transformei-me, da noite para o dia, numa mulher chocante. Foi assim: quando dei um beijinho em meu marido, ele gritou. Disse que tinha levado um choque. Que novidade era esta? Fiquei chocada. Só de raiva, resolvi dar-lhe outro, gostasse ele ou não. Mas teria que ser de surpresa. Aguardei o momento propício e... pimba! Desta vez eu também senti. Foi na ponta do nariz.
Querendo desvendar o mistério, repetimos várias vezes a operação, mas nada aconteceu. Experimentei os beijos de esquimó, sem sucesso. Meu nariz tinha se desligado.
Até que um dia, estando com umas amigas, uma delas se abaixou para pegar algo no chão e não dobrou os joelhos. Vendo-a naquela posição, não resisti, sapequei-lhe uma sardinha no traseiro. Imediatamente ela deu um pulo acompanhado de um gritinho agudo. Nossa, parece que levei um choque.
Pronto, lá vinha de novo a história dos choques. Agora eram os meus dedos.
Dei-lhe outra sardinha. Ela levou outro choque. Estava confirmado.
Rapidamente a notícia se espalhou e curiosos começaram a aparecer. Todos queriam saber qual era o truque. Eu também não sabia e, para acreditar, só levando umas sardinhas. Os incrédulos tiveram aplicação mais forte, verdadeiro tratamento de choque.
No meio da confusão, meu marido deixou escapar a história do beijo e aí não faltaram engraçadinhos a pedir o choque do nariz. Estes levaram sardinhas fortíssimas e ficaram bastante chocados.
Alguém sugeriu, então, um espetáculo nos corredores do metró, eu a distribuir sardinhas e eles a pular por causa do choque. Atrás de nós, um cartaz chamaria a atenção: "BRASILEIRA ELETRIZANTE". Quem quisesse confirmar, que pagasse. Dois, três ou cinco francos conforme o tipo de choque. O beijinho de esquimó não sairia por menos de vinte pratas. Passaríamos horas divertidas e à noite, com o resultado da féria, tomaríamos bastante vinho. E já que estávamos em Paris, quem sabe até um bom champanhe...
Beatriz Cruz
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