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Contos-->A Obra de Arte -- 04/06/2001 - 23:40 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Deus é bom, mas não foi bom pra mim!” Amigo é pra estas coisas – Silvio Silva Jr. E Aldir Blanc.

Era uma vez (toda história que começa assim é uma bosta)... um cara de mais ou menos uns vinte anos (eu garanto que esta não é uma exceção, pois narra mais um dia imbecil, que deveria ser comum, da minha vida). Numa bela Segunda-feira ensolarada (onde já se viu Segunda-feira bela!?... só nas férias!), caminhava pelas ruas da cidade à procura de lugares e coisas diferentes para fazer. (essa é minha rotina, procurar algo diferente para fazer...e é óbvio, nunca encontro nada!)
Resolvi passar na casa de um amigo (eu passava lá toda Segunda-feira). Nós trocávamos idéias interessantíssimas! Oi! E aí? Beleza? – Beleza! Tá indo onde? – Sei lá, andando... - Ah! Beleza. Pode crê! Ele é muito inteligente. Acho que é por isso que ele me ignora toda semana. Pelo menos desta vez ele me chamou para entrar. Senta aí que eu vou buscar uma cerveja. Demorou um pouco. Neste tempo eu fiquei ali sentado, observando os móveis.
O lugar era uma zona e fedia merda. Em cima da mesa de centro, fora o monte de lixo, papéis de bala, maços de cigarro amassados e um cinzeiro transbordando sujeira, tinha uma garrafa de café sem tampa. (e como todo animal irracional) Peguei a garrafa e dei um gole no café... se é que aquilo era café! Tinha um gosto podre de amargo. Ele voltou bem na hora que eu cuspi aquele líquido horrível pela janela.
Estendeu o braço com um copo de requeijão na mão. Nessa hora fiquei meio chateado, porque o copo dele tinha o desenho do Chico Bento (aquele da turma da Mônica) e eu sou fã de carteirinha do Chico Bento! Mas eu achei que seria uma tremenda idiotice pedir para trocar de copo com ele. Mas tudo bem! Ficamos sentados tomando cerveja. Não falamos em nada durante uns vinte minutos.
Bom, acabou o tempo! – Que tempo? – Agora eu vou te mostrar... – E não completou a frase (eu fico puto quando as pessoas não completam a frase). Levantou e, movimentando o pulso, pediu para que lhe acompanhasse. Entramos na cozinha, peguei mais uma cerveja na geladeira enquanto ele, numa ação patética, acendia o cigarro na chama do fogão todo sujo de molho de macarrão. A cozinha também fedia.
Depois passamos para a dispensa. Num canto, dependurada na parede tinha uma bicicleta velha, toda enferrujada e destruída pelo tempo. Eu parei e fiquei observando (não imagino o motivo, mas eu estava achando aquela peça peculiar uma verdadeira obra de arte. Arte moderna é claro, daquelas que todo mundo olha, não entende e diz que é lindo!). Quer comprar? – Ele disse. – Comprar o quê? Essa bicicleta velha?! (eu nunca compraria aquilo!). Venha! – Insistiu.
Passamos pelo quintal (o lugar mais limpo da casa) até chegar num quartinho de fundo. Não se assuste! (me assustar com o quê!? Que cara estranho esse!) A única coisa que poderia me assustar era a cara dele. Uma mistura de Paulo Zulu, sem aquele jeito de viado (é claro!) com o Hugo Carvana! (Com a cara da barriga do Hugo Carvana, é claro!).
Assim que abriu a porta do quartinho, eu pude ver alguns ratos tentando se esconder. Correram para trás de uma prateleira. A luz era pouca. Entramos. Você ainda não viu, não é? (ver!? Naquela escuridão!?). Eu só sentia um cheiro mais podre do que nos outros lugares da casa. O quarto estava muito úmido, o cheiro, o chão, o ar. Um calor frio, sei lá! (tudo bem! Não vou tentar explicar, vão achar que eu sou doido.)
Quando ele acendeu a luz. Eu vi. Na hora, minhas pernas começaram a tremer (e olha que eu sou muito macho e nunca tenho desses cagaços). Fiquei sem reação. Ele trancou a porta. Meu coração subiu para a cabeça e pulsava no ritmo de todas a músicas do Olodum misturadas. Andei de costas até me apoiar na parede. Ele pedia para eu me acalmar, eu nem respirava!
Tirou um livrinho da estante (a mesma que os ratos se esconderam). Colocou dois dedos sobre minha testa e pressionou. Me senti mais calmo. Com os olhos fixos sobre as páginas do livro, leu em voz alta alguns trechos. Alguma coisa falando de pessoas más e pecadoras (eu odeio esse tipo de texto religioso, sempre são recheados de palavras que terminam com “s”). Meu corpo estava mais leve, era como se ele me segurasse com os dedos contra a parede e eu pudesse tirar os pés do chão (era a impressão que eu tinha, não quer dizer que aconteceu!)
Ele ficou ali, me segurando e lendo durante um bom tempo. Eu me acalmei. (pra falar a verdade, me acalmei tanto que até fiquei com sono).
Agora eu podia entender realmente o que estava acontecendo. O líquido espalhado pelo chão do quarto é mijo e merda, não só dos ratos, mas também das duas pessoas que estavam ali.
Um homem e uma mulher. O homem sentado numa cadeira, totalmente nu, com os braços levantados e uma corda presa nos pulsos, amarrada num gancho no teto (um gancho igual ao que segurava a bicicleta).E um daqueles garfos grandes (daqueles de varrer a grama) apoiado na nuca dele. Não chegava a perfurar a pele, mas dava para ver que machucava bastante. O homem ainda vivo, olhava para mim com um olhar de cachorro vagabundo que queria colo e carinho. Os pés descalços, mostravam ferimentos causados pelos ratos (mesmo com o sangue coagulado por cima das feridas, dava para notar as marcas dos dentes pequeninos).
A mulher estava ajoelhada sobre alguns grãos (acho que era milho), também nua, com as mãos amarradas nas costas, cheias de marcas (acho que feitas por um chicote ou algo assim). O pênis do homem na boca e um fio de nylon envolvendo a nuca e a cintura do quase falecido, evitando qualquer movimento dela. Mas ela já tinha morrido (e, pela aparência, já faziam vários dias). Os olhos abertos, esbugalhados e imóveis, mostravam isso muito bem.
Por alguns segundos, eu achei aquilo muito mais artístico do que a bicicleta velha. Realmente, eu tenho um amigo muito inteligente! Como era criativo aquele rapaz! (apesar de estranho!). Que obra bela! Me senti uma pessoa muito especial quando percebi que era o único a observar a maravilhosa obra.
Eu queria ficar ali, e analisar aquilo. Observar cada detalhe do quarto e compreender cada palavra expressa pelo sofrimento silencioso do homem, mas meu amigo me chamou de volta até a sala. Me emocionei tanto que, ao abrir mais uma cerveja, não tive vergonha alguma e pedi à ele que trocasse de copo comigo. Ele não me parecia nem um pouco feliz (eu odeio quando fico feliz e quem está perto de mim fica triste).
Fui obrigado. Fui obrigado. Fui obrigado. Já estava me dando no saco de tanto que ele repetiu isso! Foi obrigado a quê, porra?! (não preciso dizer como fiquei puto). Mais uma vez ele pediu calma e começou a me contar toda a sua história.
Há vários anos, quando o pai estava na guerra (aquela das bombas que formam um cogumelo de fumaça), flagrou a mãe fazendo sexo oral no tio (irmão do velho “guerreiro”). Como era uma criança, não deu muito valor.
Alguns anos depois, logo quando o pai morreu (o pai era um militar insuportável que transbordava hipocrisia), mãe e filho quase se afogaram na desgraça. Os documentos do velho militar foram extraviados (provavelmente numa sala do governo, dentro de uma pasta com a etiqueta: desaparecidos na guerra) e isso dificultou a condição financeira deles.
O rapaz, este meu amigo, encontrou a salvação na igreja católica e sua mãe, na prostituição. Dava para o cunhado quantas vezes ele quisesse, afinal, ele colocava a comida na mesa. Ele chorava cada vez mais. E eu, só observava. Fiquei alguns minutos em silêncio, só ouvindo aquele soluço desesperado. Você quer minha ajuda? Quer? Ele não respondeu.
Fui até o quartinho dos fundos, abri a porta. Novamente, os ratos correram para se esconder (para trás da mesma estante). O homem olhou para mim, com aquele mesmo olhar aflito. Tentando não machucá-lo pedi que ficasse calmo e que não gritasse, pois eu iria salvá-lo. Ele colaborou e perguntou do sobrinho. Friamente eu respondi. Morto. O homem sorriu, apesar da fraqueza. Parei quando vi aquele sorriso. Fiquei um tempo olhando para a mulher ajoelhada no milho com a boca no saco do safado. Tirei meu pênis para fora e mijei no rosto dele. Tentava gritar, mas o líquido o sufocava.
Enquanto o homem tossia, encontrei um martelo (daqueles de pregos comuns). Bati seis vezes na testa dele. Cada porrada foi como um orgasmo. Não foi necessário mais, infelizmente! O garfo apoiado na nuca já podia ser visto varado na garganta dele.
Pronto! Estava terminada a mais bela obra de arte já vista por um policial! A língua para fora deu mais expressão para a obra! Uma combinação perfeita com os olhos arregalados, o monte de mijo, merda e sangue. Vocês não sabem como eu estou feliz! Ajudei um amigo e assinei o meu nome no ponto mais alto da lista de obras criminosas perversas. E eu achando que esta seria mais uma Segunda-feira monótona!
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