- Aonde você vai?
- Ali.
- Ali é qualquer lugar. Seja mais específica. Endereço e telefone, please!
- Qual é, pai?...
- Te levo.
- O Paulinho vem me pegar.
- Paulinho?!
- É, paizinho! Tomou cerveja com você, sábado passado.
- Então ele bebe?
- Ué? Bebeu um copo. Porque você insistiu.
- Onde ele mora?
- Ih...
- Estou esperando.
- Na rua de trás, perto do orelhão.
- Quem é o pai dele?
- Pai?!....
- Só falta ser o Alcindo.
- É ele mesmo. O que é que tem?
- Se esse pirralho puxou ao pai... só vai se o seu irmão for junto!
- Não dá. O Rodrigo não entra no lugar onde vamos.
- Tá vendo só, Iranilde! Ouviu essa conversa?
A mulher deixa o forno e vem para a sala.
- Deixa a menina em paz, Zé Carlos!
- Você ouviu o que ela disse? Assim a gente perde o controle...
- Ela está com o celular.
- Aposto que vai deixá-lo desligado.
- Como você, quando sai nos fins-de-semana. Tem a quem puxar.
- Não desligo o telefone. É o sinal da operadora que está cada dia pior.
- Meu pai deixava você me levar aos bailinhos. E não exigia que meus irmãos nos acompanhassem.
- Ah... mas eram outros tempos. Eu era respeitador.
A garota saiu de mansinho e ficou esperando pelo namorado. Torceu para que o rapaz não chegasse buzinando. Foi.
- Tá vendo? A menina me enrolou. Cadê o Rodriguinho.
- Está no computador.
- Esse merda não serve sequer para vigiar a irmã! Se fosse no meu tempo...
- Esquece.
Duas horas depois, Roberto Carlos ao fundo, "Instinto Selvagem" na TV, duas semanas de abstinência sexual, maridão inspirado, aproximou-se da Ironildes.
- Bonita esta camisola nova.
- Comprei-a há três anos.
- Parece nova. Passou amaciante?
- Engraçadinho...
- Jurava ter colocado as camisinhas nesta gaveta. Sabe onde estão?
- Dei pra Fernandinha.
- Tá brincando?
- Coloquei em sua bolsa. Vai que ela precise...
Mais uma noite sem transa.