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cronicas-->A NOITE DO FACÃO - PARA MAIORES DE 18 E MENORES DE 60 -- 31/01/2008 - 21:54 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu amigo Geraldo Messias envergava mais de um metro e oitenta de valentia, trazidos de Itamarandiba, das minas gerais. Carregava tudo isso em seus humildes quarenta e cinco quilos de pura sabedoria. Embora sendo um palito equilibrado, era paquerado pelas moças mais bonitas da cidade, talvez não por ser magro, mas por causa do gordo salário que todo mês, o Banco do Brasil lhe pagava.
Piau era exatamente o contrário, parrudo, um metro e sessenta da cabeça aos pés, sendo um metro de cabeça e o restante nos pés. Pé grande e cabeça chata, não tinha barriga, seu pequeno tronco era um barril de cachaça e cerveja. Recebia também um gordo salário e o investia quase todo em seu barrilzinho, depositando nele a água que passarim não bebe.
Naquele sábado, levantou-se cedo e foi às pressas ao "Cantinho do Fazendeiro", não podia perder tempo. Tempo é ouro e logo o dia findava entre uma cerveja e outra, entre uma pinga e um tira-gosto. Almoçar pra quê? O tempo voava nas asas do próprio tempo, um tempo que passa levando consigo a juventude dos moços e trazendo de volta uma velhice amarrotada de noites mal dormidas, mas bem aproveitadas.
Piau bebeu durante o dia todo e quando cuidou, o sol pendia, tocando as águas do São Francisco. Era dezessete e quarenta, se não andasse logo, perderia o pór-do-sol, o maior espetáculo que o Astro-rei oferece aos ribeirinhos do Velho Chico. Ali, o Sol faz das águas seu melhor travesseiro e descansa em paz. Não podia perder aquele pór-do-sol. Todo pór-de-sol é único, embora se repita de forma semelhante, nunca igual.
Lá vai Piau apressando o passo, cambaleando com sua bolsa pocheti na mão, pé aqui, pé acolá, em direção à república da Rua Silva Jardim, para descer em seguida a mesma rua, ao encontro do ocaso. Aproximando-se da república, vê Messias saindo do portão em seu fusca branco, novinho da silva. Piau grita "Mi", mas Messias, com os vidros fechados, curtindo Elvis Presley, não escuta e aponta o carro para a beira do rio.
Piau queria talvez uma carona, até a balaustrada, onde as moças, àquela mesma hora, desciam pra ver os bancários no último pór-do-sol da semana.
Para chamar a atenção de Messias, Piau, lança sua pocheti contra o motorista distraído, mas a bolsa fica presa no limpador de pára-brisas. Messias percebe tratar-se de mais uma peripécia do Piau e desce a Silva Jardim levando consigo a bolsa do bebum, recheada de dinheiro.
Piau entra na república, pega seu facão de um metro e meio trazido do Piauí, dentro de uma caixa de oropa e vai ao encontro de Messias, no Cais do São Francisco, mas Messias não estava lá.
Mal o sol se pós, Messias arrastou uma moça de classe social baixa, aquela namoradinha que a alta sociedade não pode saber que está namorando um bancário, e à luz do luar, amassava Elisa na penumbra da gruta de Nossa Senhora, escavada num morrico ao lado da Igreja.
Elisa tinha os peitos compridos e pontudos, como uma cabra amojada de primeira cria e o hábito de usar duas calcinhas... enquanto as mãos, amassavam os peitos da marrã, maneco se esfregava no ninho de João-congo e já nos últimos ais, quando conseguia baixar uma calcinha, cuspia fora do caco, pois não dava tempo retirar a outra . Lá pela madrugada, a pobre santa da gruta que presenciara tantas cenas cinematográficas, via-se livre dos visitantes que a deixam em paz. O sacripanta da noite fazia uma genuflexão e dizia baixinho. "Boa-noite minha santa, não conte pra Jesus o que viu.. Perdoe-me".
Os namoradinhos desenlaçaram as mãos. A moça, subiu a rampa sozinha, olhando para os lados, cuidando-se de não ser vista na rua àquela hora. Messias entrou no fusca, rumo ao barzinho Peixe - Vivo.Nessa jornada de uma noite curtida à luz do luar, vê Piau sentado na balaustrada e resolve devolver sua bolsa. Pára, desce do carro com a pocheti na mão e se dirige até onde está o Piau.
-Messias, onde você estava? Marrom e Luizinho andam à sua procura desde cedo, para escondê-lo de mim. Olhe aqui o facão.
O cabo do facão estava oculto debaixo de sovaco e aponta quase alcançando a bainha da calça. "Olha só, peguei esse facão e falei que ia cortar sua cabeça e pendurá-la de frente à república, os meninos, desde cedo te procuram para avisar, se você encontrá-los não diga que me viu" - recebeu sua bolsa, acomodou novamente o facão nas axilas e entrou no Peixe-vivo para tomar mais uma antes de dormir.

No dia seguinte, os dois riam juntos contando as façanhas de uma noite na gandai.

Nota:

Caixa de oropa. Mala de cedro envernizado, muito usada em viagens por nordestinos

Ninho de João-Congo. Aquilo da mulher... por semelhança ao ninho de garranchos feito pelo pássaro joão-congo

Sacripanta. No texto, entenda apenas como falso beato, pois o Messias é um homem de bem.




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