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cronicas-->Show me the money, uai! -- 01/02/2008 - 16:37 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Bom dia!
- Bom dia, seu Fortunato. Sente-se, por favor. Que surpresa ver o senhor aqui no banco pessoalmente. O senhor sabe que é sempre um prazer para nós atendê-lo no conforto de sua casa. O senhor é um cliente muito especial.
- Por quê?
- Por quê?
- É, senhor Joel. Eu sou muito especial por quê?
- Ora, seu Fortunato. O senhor é nosso cliente desde a década de sessenta e sempre teve o perfil ideal para nossa instituição: ao mesmo tempo poupador e ousado.
- Sei. Em outras palavras...
- Seus investimentos são consideráveis. O senhor sabe, estamos numa cidade pequena e a nossa agência é modesta. Para o pessoal do Rio é, digamos, inacreditável que uma de nossas dez maiores carteiras tenha domicílio por esses lados.
- Está certo. Fico feliz com isso. De quanto estamos falando mesmo?
- Quanto o quê?
- Quanto do seu dinheiro é meu?
- O senhor quer o valor total?
- Se não for um pedido descabido para um cliente tão antigo...
- De forma alguma... mas eu preciso de alguns minutos para totalizar.
- Totalize à vontade. Não tenho pressa alguma.
...............
- Desculpe a demora, seu Fortunato. Aqui está o seu saldo total. Fundos, ações, longo prazo. Tudo. Cada centavo. O senhor deseja fazer alguma operação hoje?
- Operarei, sim. Sabe, seu Joel, essa quantia pode ser muito grande, mas a minha simplicidade é maior. Eu nunca que fiz do dinheiro a coisa mais importante da minha vida e nem sou homem de me apegar a certas bobagens. Só tenho essa pequena fortuna por não possuir família e sequer filhos para gastar com bobagens. Como vivo de um jeito muito humilde, não há quem diga se eu sou rico ou se eu sou pobre. Não dou na cara. Não faço questão.
- Entendo.
- Pois é. Só que desde a semana passada que eu sinto um vazio no peito que não há jeito. O médico reafirmou que minha saúde é de aço. Então, pensando um pouco, concluí que eu estou vazio é do meu dinheiro.
- Mas o senhor tem tudo isso aqui guardado em nosso banco.
- Deve ser fato. Só que o meu vazio é da falta da visão do meu dinheirinho. Com tudo isso no banco, eu nunca que vi a cor desse dinheiro, entende? Meu boi pasta na invernada e, eu querendo, conto um por um. Os tijolos da fazendinha, mesma coisa. Posso até demolir tudo apenas para fazer conta exata. Mas as notas que eu tenho, nunca vi uma sobre a outra.
- O senhor pode ficar tranquilo que nosso banco garante esse saldo.
- Sei disso. Não se trata de desconfiança. Talvez seja um capricho de velho. Um capricho de cliente muito especial. Pode ser. O fato é que meu desejo é simples: quero ver cada uma dessas notas amontoadas numa sala. Em espécie.
- O senhor quer retirar o saldo todo?
- Não.O saldo pode ficar onde está. Apenas quero olhar para o dinheiro por umas horas, fazer um carinho nele, sentir o cheirinho bom que ele deve de ter. Depois você pode guardar tudo de novo no cofre.
- Mas, seu Fortunato, isso é impossível. Eu não tenho esse dinheiro vivo todo aqui e...
- Se for muito difícil, mando meu advogado tirar todo o meu perfil de poupador ousado desse banco e colocar tudo lá no banco dos espanhóis.
-Não. Não sei. Quer dizer... sei. Vou consultar a matriz. O senhor pode esperar mais um pouco?
- Posso. Tenho a tarde toda. Vou tomar um café ali no Morais e volto daqui um bocadinho.
Enquanto o gerente Joel acionava o alto escalão, Fortunato atravessou a rua para queimar a língua e os dedos na xícara do Café do Morais. Moca forte e sem açúcar, do jeito que o caipira gosta. Na hora de pagar os oitenta centavos, mão que bate no bolso da calça, mão que bate no bolso da camisa, mão que levanta o dedo indicador:
- Ó, Morais, bota no prego que eu não tenho dinheiro...
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