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Cronicas-->Ribeirão, 40 graus -- 01/02/2008 - 16:43 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Parir a palavra no calor de Pindorama é um pé. Como é quente essa terra! Nem gosto de falar sobre o clima, que acho assunto de quem não tem assunto. Que jeito? Quando me sentei na cadeira em frente ao computador, as idéias eram muitas e todas, mas viraram brasa e fumacê. Até a cadeira é uma boca de fogão. Não haverá jeito! Não tem saída. Preciso reclamar com o termómetro e desejar ser um "super gêmeo ativar forma de uma cadeira de gelo!".
Ouço Marvin Gaye e não creio que essa seja a música certa para os quarenta graus à sombra que me assolam secos e sem brisa. Talvez um mambo ou uma salsa. Verdade é que tantufaz a trilha sonora. Meu cérebro não funciona. Nada entra e pouca coisa quer sair dele. Vejo o asfalto lá fora e um vaporzinho se desprende do piche como se Paris,Texas fosse aqui, sem direito à Nastassja Kinski. Essa onda que sobe distorce tudo. As pessoas não são mais bonitas, as verdades não são confiáveis, os ànimos não estão sob controle, os referendos não dão resultado. Qual a chave? Esta terra é uma panela de pressão e quem explode é minha cabeça. Pressão alta, baixa, sei lá. É o calor. Talvez uma marcha de carnaval: ó, ó, ó, ó...Onde está o caminhão-pipa com os salvadores jatos d´água soteropolitanos?
Tudo está quente. O ar está quente, o chão queima, a garrafa d´água da geladeira ferve. Creio que é a minha mão que está crispando. O telefone toca. É alguém que não reconheço, uma voz também distorcida. As poucas palavras que saem do fone com jeito compreensível faíscam em meus tímpanos. Algum convite para um passeio, um trabalho, um trambolho, um pastel. Quimporta? Não quero sair de casa. Também não quero ficar em casa. Evaporar é uma idéia ebulicionista demais para mim. Vou ficando e pingando.
Mais uns risquinhos na régua do mercúrio e viro um cirro, um estrato ou um cúmulo. O cúmulo é que até há cúmulos, cirros e estratos no céu, e não são apenas delírios de nuvens retirados das aulas de geografia do ginásio. Antes não chovia. A tempestade era uma promessa de fim de inferno. Agora há nuvens. Chove todo dia, sempre pouco, mas o calor piora, vira mormaço mórbido. A poeira, que antes já era um castigo, mistura-se com o suor da minha cara e eu sou um grude que anda. Pareço um pote de Karo do avesso.
Vou morar na geladeira, a cabeça bem instalada no congelador. É o único jeito, já que eu tenho algo de italiano em meu passado e não corre sangue-frio em minhas veias. Sou o terror dos vampiros encalorados. Meu sangue ferve. Minha vista embaça. Tiro todas as prateleiras do Frost Free, esvazio as gavetas. Mas não caibo. Minha geladeira é P, eu sou M, o calor é G.
Marvin Gaye grita de raiva. Ou será de quentura? Ontem se armou mais um temporal no horizonte. Esta é a terra da propaganda enganosa (seria isso um pleonasmo?): muito vento promocional e pouca água. Quando não, o céu fica vermelho de tanta poeira ou preto de fuligem das queimadas que desde sempre ano que vem serão proibidas. A cana pega fogo e cria um cinturão de calores em volta do caldeirão do Hulk (quem não fica verde-raivoso com tudo isso?) que é Rib City.
Meu Deus! Como criar um clássico na caldeira? Clássicos são equilibrados, limpos, objetivos. O máximo de que sou capaz, nessas faltas de condições, é de um pastiche torto, suado e desorientado. É a literatura do inferno. Pena que para Dante me falte uma dúzia de Leopardis. Enquanto o sol me queimar os cornos, o máximo que eu lhe darei é isso que já foi. Uma miragem de um esboço de um texto. O resto derreteu-se ou virou suco ou estourou meu saco. Reclamações: chame o SAC ou chupe um picolé.


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