Usina de Letras
Usina de Letras
125 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62186 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50586)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Humor-->A MALA AMADA -- 24/06/2005 - 09:26 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A MALA AMADA


Fernando Zocca


Capítulo I


O escorpião gay


A população toda sabia ser o Jarbas, prefeito eleito de Tupinambica das Linhas, um corrupto abjeto. A consciência de que ele se apropriara, por licitação fraudulenta, dos bens pertencentes ao povo, era coletiva.
Na segunda-feira, o caquético resolvera almoçar num restaurante da praça central da cidade. Seu objetivo era testar as reações populares; queria sentir o que o povo pensava dele. No caminho encontrou-se com o F.B. (Fuinha Bigoduda), seu aliado e intérprete predileto do comportamento reativo dos eleitores.
Eles caminhavam tranqüilos pela praça deserta; puderam avistar ao longe o doutor Brócolis, que assoberbado, carregando grossos volumes debaixo do braço esquerdo, fechava a porta do seu Passat verde velho e carcomido.
Caminhando com a cabeça baixa o legume não percebeu a presença afastada dos cúmplices parados, aguardando sua chegada..
Brócolis notou o gato preto que, indiferente aos ruídos diurnos, remexia um amontoado de lixo. O bichinho estava distante alguns passos do verdura, e fora da sua linha de deslocamento. Mas o estressado, ao passar por ele, chutou-lhe a bunda com o bico do pé esquerdo.
- Minha vontade era enfiar uma dinamite na busanfa desses vagabundos, resmungou o doutor pé-de-hortaliça. Ele continuou: - A gente paga uma nota preta pra estudar e quando se forma, veja só o que acontece... tem que ficar intermediando reeleição de gentalha. Não se sabe o quanto é difícil criar empresas fictícias só pra levar a grana do poder público, como pagamento dos financiamentos de campanha.
Jarbas e FB (Fuinha Bigoduda), esperavam a chegada do atrapalhado. Ele vinha cabisbaixo e só pararia quando estivesse na iminência do choque com os obstáculos inobservados.
Jarbas apontando o leguminosa comentou com o FB:
- Depois que ele saiu da CDCTL - Clínica de Desintoxicação Cerebrina de Tupinambica das Linhas - (também conhecida como Clínica de Danificação Cerebral de Tupinambica das Linhas) ficou bastante esquisito. Veja só: a esposa cansada com tanto tumulto, o abandonou; quando se sentiu segura, ela contou pra todo mundo as safadezas do ordinário. Olha aí o resultado!
Brócolis caminhava rápido igual a um rato assustado, mas parou de repente, ao ver dois pares de sapatos no seu caminho. Ergueu lentamente a cabeça e compreendeu que as figuras ali defronte, eram suas conhecidas.
O Fuinha Bigoduda, olhou para Jarbas, o prefeito famélico e disse:
- Vejam o chique nervoso! Parece um escorpião boiola.
Não se sabe se o rubor das faces do verdura, verificada depois das palavras do FB, eram também resultado da ingestão desordenada de vitaminas, ou decorrência de complicações vasculares.
Jarbas mandou ver:
- E aí, Brócolis? Dizem que você liberou seu lado lagartixa. Tá escalando paredes, é verdade?
É claro que se Andrews Brócolis do Condom demonstrasse açodamento e nervosismo naquele momento, o clima poderia piorar. Por isso ele brincou:
- Estou com uma sede horrível. Vamos tomar uma Malzebier?


Capítulo II

Mais enrolada que carretel de linha

Quando adentraram ao restaurante, puderam perceber que uma das mesas era ocupada pelo colunista social Ifraim Suéter, do Diário de Tupinambica das Linhas.
Os amigos cumprimentaram, de longe aquela figura. Os modos respeitosos do trio vinham da consciência de que a pessoa era influente, formava opiniões e que portanto, deveria ser respeitada.
Ao sentarem-se à mesa, Jarbas foi dizendo, mais para dissipar a tensão do que por convicção honesta:
- Todo mundo sabe que o latifúndio representa tudo de ruim. Vejam bem: a pinga enlouquece; o açúcar causa diabetes, e as queimadas, usadas para facilitar as colheitas, produzem substâncias tóxicas para a população da cidade. Quem ganha com todos esses malefícios é um grupo muito reduzido. As desvantagens ficam para a maioria.
O Fuinha Bigoduda respondeu:
- Se não fosse esse grupo de "degenerados", você não seria eleito prefeito da nossa mais querida, festejada e pomposa urbe.
Jarbas, lembrando o Guga, nos tempos áureos, rebateu rápido:
- Você não sabe quanta concorrência pública eles vão ter que "ganhar", pra me darem quitação. Ontem um grupo de produtores me ligou dizendo que a décima empresa fantasma formada por eles foi oficializada. Isso quer dizer que A Caixa de Previdência dos Funcionários Municipais Aposentados, "emprestará" dinheiro a eles, sem esperança de receber. Vocês se lembram da história do Banespa? Então ... o roteiro e o filme são iguais.
Brócolis fez cara de quem não ouviu. Fuinha Bigoduda, para evitar explicações e repetições desgastantes, trocou logo o tema dizendo:
- O Esporte Clube 30 de Novembro subiu para a divisão especial. Também depois de pastarem por 7 anos e meio, tiveram muita sorte.
Andrews Brócolis, ante a presença do garçom, pediu o prato costumeiro, e num surto de ausência epiléptica, disse no tom divagante:
- Existe pinga por causa do pinguço, ou pinguço por causa da pinga?
Jarbas olhou para o Fuinha, e girando o indicador direito ao redor da orelha, sinalizou a piração do verdura.
Logo em seguida, com um olhar vago de quem estava distante, Brócolis inquiriu:
- Quem pichou a casa da Luisa Fernanda?
Jarbas consultando o cardápio respondeu com a voz pausada:
- Eu não sei... eu não sei quem teria sido o impertinente. A onda de pichação está no auge. Vocês sabem que a Luisa Fernanda colaborou na minha campanha. Ela e seu grupo, da seita maligna do pavão-louco, fizeram muito por mim. Ela não pediu quase nada em troca. É claro que terei de colocar, numa repartição, aquela sua cunhada cara de calango. A avó da Luisa Fernanda, conhecida como vovó Bim Latem, já faz parte da minha administração. Como sabem, ela é a chefe do meu gabinete.
Depois que o garçom serviu a mesa, Jarbas perguntou ao doutor Brócolis:
- Dizem que você é metro sexual. É verdade Brócolis?
- Mentira! Uma dezena de centímetros sexuais. Só isso. Metro é muita coisa.

Capítulo III

A satânica doutora Nó

Com a cabeça sob um penteado estilo anos 70, - cabelos curtos, fixados com muito laquê - , adentrou ao recinto a doutora Nó. Era mestra em contabilidade e caminhava com o nariz empinado.
Debaixo do braço mantinha fixa uma bolsa pequena. Alguns presentes puderam perceber, que o suor e a catinga daquele sovaco, descoloriram o couro do acessório.
Ela falava ao celular. Todos queriam saber, como a doutora eficientíssima, conseguia ao mesmo tempo gerir o diálogo, acertar o trajeto em direção à mesa escolhida - sem colisão com as cadeiras e demais móveis - e manter o cigarro aceso, no canto esquerdo da boca.
Brócolis olhando por cima dos aros pretos dos óculos antigos disse:
- Chegou a miss M. A doutora Mandrake. Essa aí gosta da magia. Dizem que ela dá mais que machuchu na cerca.
Jarbas, aproveitando a deixa, completou:
- Um ex-prefeito, de Tupinambica das Linhas, atribuía ao chuchu a inflação galopante que ocorria só nessa cidade. Mas pode uma coisa dessas? Tem ou não tem algo a ver?


Capítulo IV

Os pratos voadores

A doutora Nó sentou-se a uma mesa próxima ao grupo do Jarbas. Enquanto aguardava a chegada do garçom, ela apagava a bituca do cigarro e terminava sua conversa ao telefone. Ela pode perceber que seus vizinhos já comiam, conversavam em tom velado, e emitiam risos contidos.
O garçom chegou trazendo o prato habitual da doutora. Ela desligou o celular e afastou o cinzeiro. Na quinta garfada sentiu algo que lhe caía na cabeça. Nó ergueu lentamente a mão esquerda e alisou o penteado. Num tufo de cabelo, encontrou um feijão solitário. Risos de sarcasmo vinham do grupo contíguo.
A doutora Nó não era boba. Deduziu logo que o feijão que pousara ali, onde não deveria pousar, fizera um vôo, cuja rampa de lançamento, estava na mesa ao lado.
Ela olhou de soslaio para o grupelho que se calou. A satânica, fazendo jus ao nome, capturou uma batatinha frita, e num gesto rápido lançou-a por cima do seu ombro esquerdo. O projétil acertou, de raspão, a lente direita do Brócolis.
Jarbas e FB fecharam a cara. Cada um deles apanhou pedaços de mandioca frita e, sem medo da identificação, arremessaram no cocuruto da doutora Nó.
A partir daquele momento, generalizou-se o lançamento de objetos. Até cadeira voou. Quando os ruídos dos pratos quebrando-se, atingiram José Berra o proprietário balofo, houve a correria de contensão. Garçons e cozinheiros chegaram para abafar o quebra-quebra.
No fim da refrega a Satânica doutora Nó contabilizou as seguintes baixas no seu complemento: uma peruca de cabelos curtos; um par de lentes de contato; um par de cílios postiços; um aparelho contra surdez e a arcada superior da dentadura.
A doutora, aos gritos e prantos, pedia justiça. Esgoelando, descabelada, ela perguntava:
- Pode um homem desse ser prefeito da cidade?
Ninguém ficou pra responder. O flash da câmara fotográfica, do Ifraim Suéter, cintilava cadenciado, no registro das cenas.









Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui