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Cronicas-->Ridículo é viver nas guerras, -- 05/04/2003 - 12:53 (Agostinho M. da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Acordei dentro de um céu vestido de azul, sorvi meu café, alimentei os pássaros que todas manhãs vem buscar o pão e o milho picado.
Ligo o som, e sinto-me bem, apesar dos noticiários e das reclamações de não ter dado atenção aos amigos em minoria, já que as amigas são maioria.
Minha amiga, escritora, reclama da minha ausência, em um recado deixado na secretária eletrónica.
Ligo o micro para ler as correspondências, e sou surpreendido com uma linda página elaborada pela leitora Martha, ou Segredo Feliz, que trouxe da retina lágrimas antigas, que insistem em morar comigo, como se fossem amantes.
Já fiz de tudo para elas me deixar, mas insistem morar no mesmo corpo que habita minh´alma, e por vezes choram de alegria, como agora, ouvindo a música "Imagine" de John Lenon, inserida junto ao texto; não tão belos, que são versos de uma guerra de ficção que escrevi, pensando na "Paz que sonhei ver, sem mentiras".
Os versos dentro da ficção de uma guerra real que mostra os meios de comunicação; encontram meus sonhos em farrapos, tento sorrir da cena, mas o texto inserido na página, toma conta dos pensamentos.
Viajo ao Iraque, ouço canhões, aviões, míssil, bombas! Tento fugir, e no primeiro carro com muitas mulheres fugindo entro, e de repente um estrondo, surge corpos voando, almas gritando, lamentando não ter entendido as ordens da patrulha aliada para parar.
- Coitadas, não entendiam o inglês falado.
Desesperado saio, e vejo crianças correndo, tentando chegar à fronteira Jordaniana, em busca de proteção.
Encontro abrigo no acampamento da ONU, e assisto 65 crianças que sofrem de febres persistentes e falta de apetite. Além de apresentar agressividade fora do comum.
Abdul, nascido na Somália, desenha em um papel, uma bandeira do Iraque presa ao tanque verde, ladeado por soldados com armas obsoletas.
No alto do desenho um céu com um caça, e um helicóptero junto de uma bandeira dos EUA, trazendo missies.
O menino ao entregar o desenho diz: - Alá é grande e vai proteger o Iraque, que vai derrotar o EUA.
As duas psicólogas que o assiste, sorriem no primeiro passo para libertar o menino da sua solidão e do próprio medo, adquirido no trajeto de Bagdá e a fronteira da Jordània, no total de 520 quilómetros de deserto, onde ouvia os bombardeios, que ele não conseguia descrever ao falar. - Tinha medo!
Lembro então de outra amiga escritora que pede sempre para que não deixe de sorrir ou alimentar uma criança que tenha fome.
O telefone me leva de volta ao Rio de Janeiro, mas antes de descer do sonho no Aeroporto Tom Jobim, olho para a Avenida Brasil tomada de balas, pessoas abandonando os carros desesperados. - Corro? Desço ou fico sonhando?
Continuo em transe, e vejo um cortejo de anjos com suas harpas elevando-se no caminho do céu.
No centro Gabriela, uma jovem linda e amada pelos pais como poucas (infelizmente assisto o fim das famílias disputando um espaço na Terra, um salário, comida, remédios, um emprego, drogas! Malditas drogas!) - Pergunto o que houve? - Morri de uma bala que não era para me atingir, mas estava no momento em um local errado, próximo da Estação de Metró na Tijuca, pela primeira vez só, e feliz descia aqueles degraus, sozinha.
- Por que feliz? - Por que meus pais deram-me a oportunidade de fazer o trajeto da Escola para casa, como qualquer jovem da minha idade, pela primeira vez senti à liberdade, tão desejada pelos jovens, e que eu tanto acreditava, mas um tiro perdido tirou meus sonhos.
Em cinco minutos provaria aos meus pais, não haver violência no pequeno trecho.
Choro o ridículo de uma bala, de uma morte inocente. - Assassinos ridículos!
Acordo no meu quarto, todo gradeado. - Minha casa é uma prisão, dentro de um cenário verde e com sua piscina bem escondida dos olhos intrusos, onde na minha rede sonho minhas quimeras ainda azuis. - Incrédulas, ridículas!
Encontro-me de novo em frente ao micro, e tenho que atender um pedido para um poema de amor, envolto na paixão louca de uma menina sertaneja, por um menino da Cidade.
Não consigo desvencilhar-me das lágrimas que trazem da memória filhos e filhas que matam os pais em busca do premio do seguro. - Ridículo!
Uma cascata enevoa à retina, rolando na face, e corre como um rio caudaloso em busca de um mar de PAZ, e sonhos que ainda alimento dentro desse coração, muitas vezes amigo, e por vezes bandido, ridículo!
O impacto da guerra na Cidade do Rio de Janeiro e no Iraque não me deixa escrever o amor. Onde está a poesia da vida? Onde está o amor? - Onde!
Tento sair do clima, adentrando em uma sala de bate papo para descontrair, mas a paranóia não é só minha. Uma menina diz do medo de sair às ruas de S.Paulo onde já sofreu dois raptos relàmpagos, e que no último ficou horas em poder dos bandidos no carro.
Fala da angústia dos filhos nas escolas, do marido no trabalho também raptado. Ridículo!
Sem educação, talvez com medo de um assalto na sala virtual, saio e volto para minha escrita ridícula.
Tudo parece ridículo diante das nossas aflições cotidianas, as nossas preocupações corriqueiras tornam-se ridículas, perante a guerra do Iraque e o sofrimento das pessoas presas nas salas de bate papo, por não poderem sair às ruas.
Lembrei que coloco uma nota de dez na capanga, e escondo os outros pertences em baixo dos tapetes, para tentar enganar os assaltantes. Esqueço que eles levam o carro. - Outro ridículo!
Quando vamos ter o direito de ir e vir? Terei que ser bandido, para gozar os meus direitos garantidos na Constituição?
Como, despedir de alguém nos e-mails com beijos e abraços, se estou desconfortável no meio do ridículo? - Peço perdão pelo ridículo que estou vivendo, mas agora vou buscar na poesia, minha amante; o meu momento de êxtase, de amar, no reflorescer das rimas, quem sabe no ridículo de amar, consiga alertar alguém do perigo da vida ridícula, que vivemos.
Fim.
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